Desde sempre nas terras de Cabral o enredo da história é sempre a mesma. Na Casa Grande todos são homens. Todos brancos. Todos ditos católicos (será que rezam o terço?). Todos “supostamente” heterossexuais. Todos senhores do poder macro sem resquícios de compromissos com direitos sociais.
Esporadicamente, desde o Brasil Colônia, a Casa Grande abre as portas para que ,homens e mulheres, escravizados pela internalizada subalternidade ao pátrio poder usufruam da companhia dos seus senhores, ou melhor, candidatos na cerimônia do beija mão.
Como aquela velha senhora de pele preta na TV que abriu um sorriso de felicidade, com a boca rasgada pela pobreza periférica e alagoana. Uma boca marcada pela ausência dos dentes e da simbólica percepção de que somos todos herdeiros natos da escravidão dos homens brancos, apesar de Zumbi. A velha senhora com a boca rasgada pela pobreza correu para os braços do homem branco e disse: o senhor é meu candidato!
O candidato no auge da reciprocidade eleitoral (tudo em nome do voto) fez um breve carinho na cabeça da velha senhora e sorriu. Close para o sorriso do candidato!
Mas, adiante é exposta uma criança negra (se não há racismo no Brasil porque será que a pobreza explorada é a negra? ) e com a força peculiar da infância ela declara um amor midiático.
Novamente o candidato afaga a pobreza invisível da infância alagoana e segue adiante.
A pobre e negra criança exulta de emoção!
Pobre menina pobre, moradora das grotas alagoanas.
O racismo é um corpo ideológico. Racismo institucional e silencioso que se prevalece das desigualdades econômicas, do analfabetismo das terras negras de Zumbi, o segundo menor estado da federação, mas o primeiro, gritantemente, em exclusão social, em diversas frentes, incorporado desde o período escravocrata.
Em 1879 só brancos usavam sapatos. Homens e mulheres descalços eram considerados de classe inferiores. Hoje usamos sapatos, mas seguramos as bandeiras e corremos atrás dos trios, por 20 reais.
Negros na escravatura eram considerados mercadoria humana.
As noções de poder internalizadas pela Casa Grande nos fazem, hoje, embarcar cativos na Grande Festa, quando os senhores saem dos seus palácios e nos visitam,efusivamente, em nossos casebres borrados de ausências. Ausência de política de estado.
Permanecemos cativos quando os homens da Casa Grande alumiam com fatos grandiosos, espetaculares, as ruas normalmente escuras pela insegurança cotidiana e criam mirabolantes trajetos que vão desde o sorriso efervescente colado em lábios , que logo se trancam após a captura dos votos e as promessas envelopadas de futuro.
Término de eleição é hora de cerrar as cortinas, os senhores todos eles homens. Todos brancos.Todos ditos católicos (será que rezam o terço?). Todos “supostamente” heterossexuais farão reuniões secretas com os seus iguais e decidirão o que é melhor para o povo.
E as ruas desabitadas, silenciosas e sem promessas, nem sorrisos fartos passam a ser espaços meramente popular. Sem bandeiras!
É uma relação entre vencedores e vencidos.