A presença de mulheres, negros e homossexuais concorrendo a altos cargos eletivos agride o coração da tradicional elite imperial bem educada e orientada para permanência vitalícia das castas.
Há uma determinação dogmática em cristalizar espaços e lugares construindo cercas que não permitem outra representação sociológica nos postos chaves do poder.
Mulheres, negros e homossexuais nas estruturas do poder representam a fragmentação do ideal da colonização que escraviza a sociedade com determinantes pretensões hegemônicas.
Todos homens.Todos brancos.Todos ditos católicos.Todos com a noção de uma heterossexualidade obrigatória e « natural», baseada na reprodução da espécie.
O símbolo do homem universal, cuja superioridade política e sexual é reafirmada, nacionalmente, como amostragem de força..
Segundo o senador Demóstenes Torres/DEM, as mulheres negras escravizadas “queriam” ser violentadas pelos escravocratas. Uma forma extremamente simplista, racista e sexista de resumir a miscigenação brasileira. E para corroborar com sua análise sócio-étnica cita o pernambucano Gilberto Freyre e sua, contraditória, Casa Grande e Senzala.
Ao citar o DEM, partido que dá sustentação a campanha 2010 do PSDB , trazemos para pauta discursiva da atual campanha política, tanto na esfera nacional quanto estadual, os ensaios, memórias de um diálogo da eterna Casa Grande que incita a intolerância social e naturaliza como força simbólica o referendo da submissão da mulher estabelecendo o espaço da Senzala, como o da subserviência humana.
O Brasil político toma para si a condição da mestiçagem quando lhe é conveniente ou quando se depara com as muitas gentes sobreviventes dos subsolos de invisibilidade social exigindo a partilha do latifúndio da andocracia brasileira, entretanto é o principio de corporativismo colonialista de grupo: Todos homens. Todos brancos. Todos dito católicos e todos supostamente heterossexuais que norteia os interesses desse mesmo grupo na hora de salvaguardar seus espaços cativos de poder.
Não acredito em salvador@s da pátria, entretanto creio que podemos continuar a abrir as portas da nação para inventar o senso de pertencimento.
Precisamos, sem as paixões que cegam, redimensionar a propaganda midiática e promover uma análise mais acurada dos projetos políticos que melhor dialoguem com as investidas sociais em relação ao Estado, e em torno de políticas focadas nas pessoas e em seus símbolos culturais, étnicos, existências.
Contradizendo o senador do DEM, as mulheres no escravismo foram, sim, subjugadas e violentadas sexualmente. E a selvageria perniciosa da Casa Grande cristalizou o ideal factóide da miscigenação brasileira, fruto do período colonialista, incorporando a intolerância racial na sociedade contemporânea e o ideal de dominação e hierarquia dos homens sobre os corpos femininos, como extensão de um latifúndio próprio.
Creio que na atual campanha política é hora de resgatar as especificidades do projeto político que se constrói, coletivamente. As políticas específicas para mulheres, negros, indígenas e deficientes precisam seguir seu curso de construção.
Precisamos de uma mulher Presidenta, assim soletrado no feminino!
Precisamos de uma mulher no poder como sinônimo de construção de uma sociedade plural e não-androcêntrica.
O Brasil é um país de poucos homens e para outros poucos homens.
Até quando?
Precisamos de uma mulher Presidenta!