O perito George Sanguinetti, contratado para auxiliar a defesa dos envolvidos no desaparecimento e morte de Eliza Silva Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, já está em Belo Horizonte para ficar cerca de dez dias. Ele disse que deverá refazer alguns procedimentos das perícias feitas pela Polícia Civil.

Sanguinetti já está com os os laudos periciais, acompanhado do advogado Zanone de Oliveira Júnior, que defende o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, "para saber quais decisões tomar daqui pra frente, o que contestar e o que aprovar" afirmou.

"O que me chama atenção é que até agora o que eu li não tem nada demais. É um absurdo falar que o Marco Antônio Aparecido cortou pedaços da Eliza e jogou para os cães. Isso deixaria evidências. Só o estrangulamento é que não deixaria", disse o perito.

Sanguinetti acredita que vai conseguir contestar boa parte dos laudos periciais da polícia e que no mais tardar amanhã já consegue concluir a análise do caso. "Ainda não li tudo. No fim do tarde de hoje ou amanhã pela manhã devo terminar as análises do laudos e depois, se achar necessário, devo visitar todos os locais que a polícia disse que os suspeitos se encontraram e mataram a Eliza" concluiu. "De certo temos que analisar com prioridade o sangue na Land Rover e o fio de cabelo no colchão".

O advogado de Bola disse que o primeiro passo é fazer a indicação de Sanguinetti como assistente técnico no caso e só depois da análise dos laudos é que vai decidir quais perícias solicitar. "Já estou entrando em contato com a doutora Marixa (Fabiane, juíza do Tribunal do Júrio de Contagem) para fazer a indicação do Sanguinetti como assistente da defesa. Acho que a indicação deve ser aceita automaticamente, se não vai ficar feio pra justiça. Só depois que vou decidir quais perícias contratar", disse Zanone.

George Sanguinetti é médico-legista e professor de medicina legal na Universidade Federal de Alagoas. O perito surgiu no Brasil no início dos anos 90 ao fazer a perícia do assassinato do ex-tesoureiro do presidente cassado Fernando Collor, Paulo César Farias, PC Farias. Ele também foi assistente da defesa do casal Nardoni, condenados pela morte da garota Izabela Nardoni, 5 anos.

O caso

Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação da atual amante do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.