A arrogância das "otoridades"

12/08/2010 14:31 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Ainda existem aqueles que pensam que a autoridade pública exerce um poder pessoal. Esquecem de que vivemos numa república e que, portanto, as autoridades devem explicações e prestação de contas aos seus patrões. Esse pessoal acha que pode tratar o cidadão como lixo e destilar arrogância por onde passa.

Vou citar dois episódios que me chamaram a atenção de como isso ainda é influente em nossa cultura. Um deles é mais recente. O ministro do STF Joaquim Barbosa, flagrado no boteco mesmo em licença médica, ficou com raivinha da imprensa. Emitiu uma nota em que bradava a legitimidade do seu ato e criticava a atitude da imprensa, que teria “invadido sua privacidade”. Já pensou?

O sujeito é funcionário público, recebe mais de 25 mil reais, tem toda a estrutura do mundo para trabalhar e não quer ser cobrado! Ele pode pedir licença médica, é claro, mas deve justificá-la, principalmente quando há sérios indícios de que ele não está tão doente assim. Ademais, em se tratando de algo realmente sério, ele deveria pedir aposentadoria, não é?

Mas não é isso que eu quero destacar. A sua arrogância em não querer prestar contas a quem paga seu salário é o que mais me incomoda. Flagrado num ambiente público em situação bem menos confortável do que as cadeiras de couro do STF, é razoável que a imprensa noticie o fato e que cobre dele explicações, ou não?

Outro típico caso de arrogância ocorreu com um também ministro do STF, Ricardo Lewandowsky. Em audiência pública que tratou de cotas raciais, foi extremamente grosseiro com um professor convidado. Enquanto o professor falava, Ricardo batia papo logo com quem: Joaquim Barbosa. Foi quando o professor Ibsen Noronha, do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), pediu silêncio: “Eu gostaria de chamar a atenção dos ministros...É que tenho cacoete de professor. Só consigo falar quando meus alunos (estão ouvindo)...”.

Lewandowsky calou-se. Mas, quando o professor terminou de falar, também ficou com raivinha e repudiou a atitude: “Não posso deixar de registrar o repúdio da presidência (da mesa) ao modo com que o eminente advogado se dirigiu aos ministros”.

Mas, menino!

Ora, se eu fosse o professor teria feito o mesmo. Aliás, já fiz isso em sustentação oral e nunca fui repreendido. Afinal de contas, o professor estava com a razão. O ministro deveria ter pedido desculpas, isso sim. Mas sua arrogância não permitiu. Foi novamente mal educado e covarde, pois não admitiu explicações por parte do professor, que não tinha mais a palavra.

Vivemos em pleno século XXI, mas as práticas patrimonialistas ainda se apresentam nesse Brasil de meu Deus. Desde a carteirada para entrar no estádio de futebol, prejudicando a renda do meu Azulão do Mutange, até o destempero de algumas altas autoridades do Judiciário com cidadãos comuns ou mesmo com seus subordinados. Quem vive na advocacia sabe que, se não se impuser, será tratado como lixo por uma dessas “otoridades”.

Esse tipo de coisa me irrita profundamente.
 

Leia sobre o caso do professor.

Leia sobre o caso Joaquim Barbosa.

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