Gurgumba é a guetificação do abandono sócio-político, a ação violenta do descaso com a vida humana e a historicidade de um povo.
Gurgumba fica localizada entre o ocaso e o nada. Em proporções menores Gurgumba é um Haiti, nas terras em que morreu o herói nacional e o símbolo da resistência contra a opressão no Brasil,Zumbi.
Gurgumba é uma comunidade de remanescentes quilombolas, no município de Viçosa/AL, certificada em evento festivo no Palácio República dos Palmares, em 18 de novembro de 2009.
Como comunidade remanescente certificada Gurgumba deveria ter recebido dos organismos responsáveis suporte técnico e teórico para o estabelecimento de ações voltadas para garantia do desenvolvimento e sustentabilidade da comunidade.
As gentes de Gurgumba estão excluídas do diálogo democrático e faz parte da crescente massa de miseráveis dos ocos invisíveis em Alagoas.
Sobreviventes de uma realidade de exclusão e abandono, meninos e meninas descendentes de quilombolas, alagoanos, estão expostos a permanente situação de riscos de uma infância partida antes da juventude.
A infância mal nutrida dos meninos e meninas em Gurgumba floresce, com uma vulnerabilidade alarmante, esmagando-os entre os trilhos retorcidos da Rede ferroviária, terras divididas e as águas do Rio Mundaú.
São perversos os efeitos do racismo institucional que estrangula as possibilidades geracionais, confina os espaços das gentes de Gurgumba em míseros metros quadrados.
A miséria exposta de Gurgumba não é devido às águas furiosas que sangraram territórios alagoanos.
A miséria de Gurgumba é uma epidemia escancarada da internalizada ideologia da inferioridade étnica. Negros e quilombolas experimentam no Brasil contemporâneo, o elevado grau de desigualdade social que a abolição inacabada nos deixou de herança. A negação secular de direitos materiais, sociais e simbólicos.
Existe um beco sem saída para meninos e meninas quilombolas de Gurgumba que possuem um acesso precário à rede escolar, que por sua vez não pensa a historicidade dos descendentes de Zumbi e como em um ciclo vicioso as crianças descendentes de quilombolas, não reconhecem sua história, não se pensam quilombolas.
São crianças, entre nove e doze anos que, sem a companhia de um adulto, desbravam diariamente,quilômetros e quilômetros de um íngreme caminho pavimentado por lamaçal, árvores, gado no pasto,até chegar a uma ponte mambembe. A ponte liga Gurgumba à civilização urbana.
A exclusão sócio-étnica em Gurgumba é um flagrante desrespeito aos direitos humanos.
É preciso que os órgãos competentes definam responsabilidades para avançarmos na arquitetura de instrumentos que gerem políticas estruturais para que Gurgumba saia do exílio. Do abandono social.