Marina Silva se propõe a mexer com os pilares da hegemonia racial do segundo país mais negro do planeta, ao declarar-se a candidata negra a presidência da República Federativa do Brasil?
Talvez Marina Silva esteja neste palco étnico-político para dividir os silêncios construídos, dos quase 50% da população brasileira como uma espécie de tapume do apartheid: negro pode até “ assistir” a história como elemento coadjuvante ,mas, não participar dela. Recuperar hiatos entre cantos e becos da história para quem sabe gerar um diálogo frutífero de futuro?
Quando Marina Silva diz que quer ser eleita a primeira presidenta negra da República Federativa do Brasil deve ter conhecimento das interpretações interiorizadas que circundam o povo negro neste país.
Marina Silva sabe que a nossa propalada miscigenação étnica esconde a complexidade da sutileza do racismo, e, é um ponto de partida para criar diálogos longos e políticos com a matriz da sociedade que “ainda não é respeitada: os ditos diferentes.
Sabe também que o racismo tem a idade do tempo da razão humana, preconceitos que atravancam caminhos e dão lastro a intolerância.
Talvez Marina Silva esteja na cena política para reivindicar o repertório autoral do povo negro: Protagonismo!
Talvez Marina Silva proponha caminhos para discussões francas, abertas, despidas de estereótipos pessoais e partidários na elaboração de conteúdos que tragam de maneira coletiva vozes de quilombolas, religiosos afro, cotistas negros, sindicalistas negros, intelectuais, LGBT, e militantes do movimento negro em geral.
Quando Marina Silva se propõe ser eleita a primeira presidente negra do Brasil sua plataforma política pode tomar dois caminhos possíveis: ou ficar na superfície do discurso ou esquadrinhar e pôr na tela o rosto de muitos e muitas brasileiras negras que têm a legitima competência de romper com ostracismo sócio-étnico. Mobilidade e sustentabilidade além do discurso...
Quando Marina Silva se propõe a ser a legitima representante do povo negro na República do Brasil traz na fala a coragem de insubordinação étnica. Entretanto é preciso que essa “revolução” abarque e subsidie experiências referenciais de homens e mulheres. A Bahia é expert em traduzir legitimas candidaturas...
Mesmo tendo a negritude como condição étnica , Marina Silva terá, caso queira, tempo de alimentar a identidade de política negra ao longo da campanha, embrenhando-se na geografia do racismo que acomoda pessoas em espaços asfixiantes e limitados.
Como candidata negra Marina Silva deverá percorrer itinerários históricos que agregam valor a árida cartografia do povo negro e criar amplitude de sua atual plataforma de governo que se resume em “Lutar contra todas as formas de discriminação: étnica, racial, religiosa, homofobia, sexual e outras”. É preciso conjugar a experimentação com o  aprendizado das identidades historicamente subjugadas.
A convite do vereador Sílvio Camelo fizemos parte da mesa de solenidade,representando o Projeto Raízes de Áfricas, quando nesta sexta-feira (11), no auditório da Associação Comercial, no bairro de Jaraguá, a senadora e candidata à presidência da República pelo PV, Marina Silva recebeu o título de cidadã honorária de Maceió/AL, fruto de requerimento – aprovado por unanimidade em sessão plenária – do vereador Silvio Camelo (PV).
A mesa foi presidida pelo presidente do Legislativo Municipal, vereador Eduardo Holanda (PMN) e contou com a presença das vereadoras Heloísa Helena (Psol), Fátima Santiago (PV), Rosinha da Associação de Deficientes Físicos de Alagoas-Adefal (PTdoB) e da Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -IBAMA em Alagoas.
Durante nossa fala como representante do movimento social negro, sem filiação partidária, solicitamos a marcação de uma agenda nacional para os 26  Fóruns Estaduais Permanentes de Educação e Diversidade Étnico-Racial, tendo como objetivo discutir politicamente a continuidade do programa de implementação da Lei nº 10.639/03 e a sustentabilidade da Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade/SECAD/MEC, caso seja eleita a primeira presidenta negra do Brasil.
A proposição de agenda para discutir a Lei Federal nº 10.639/03( fruto da militância do movimento negro e da visão política do atual governo) à candidata do PV será democraticamente socializada junto à candidata do PT e o candidato do PSDB ( caso exista canais para fazê-lo).
Confirmar essa agenda nacional com os 26 Fóruns Estaduais Permanentes de Educação e Diversidade Étnico-Racial demonstrará a sensibilidade política de estabelecer o diálogo estrutural da candidata negra com as proposições nacionais da escola ant-racista que os fóruns defendem.
E será um passo significativo para que o candidato/candidata a chefa ou chefe da nação esmiúce a intimidade da biografia que o racismo traçou nas escolas brasileiras e a partir do conhecimento da Lei Federal nº 10.639/03 agregue valor discursivo com as novas referências étnicas que dialogam com a produção das contemporâneas escolas deste país chamado Brasil.