Após a participação no Seminário Internacional: “A Escola Aprendendo com as Diferenças”, “VI Seminário do Programa: Educação Inclusiva: direito à diversidade, da Secretaria de Educação Especial/Ministério de Educação, ocorrido no período de 24 a 27 de maio, em Brasília, ousamos “hipoteticamente” criar um saudável confronto entre as formas e significados sociais no, ainda, eterno ciclo de dominação europeu em território brasileiro visando a ressignificação da identidade étnica-positiva no contexto negritude e deficiência.
Como criar pontes de conversação no claustrofóbico mundo em que a deficiência física se embrenha com a negação étnica?
Como dialogar com o racismo enquanto ideologia socialmente determinante que acomoda imagens grudadas no imaginário da população estabelecendo a sutileza da não existência? Como substantivar a linguagem-social da compaixão em relação às limitações físicas?
Como emancipar conceitos da resistência de memórias institucionais?
Durante todo Seminário ouvimos os “discursos fortemente consolidados nas resistências pessoais” de que o espaço do Seminário não era apropriado para discutir concepções sobre o racismo, e da existência de um plano de ação que vem sendo construído a cerca de “anos”. Estabeleceram o “seqüestro” do quesito “flexibilidade” na arte de educar e impuseram a linguagem sublimar da segregação pedagógica.
Como pensar a elaboração compartilhada de planos de ações que traduzam em fortalecimento,autonomia e o empoderamento dos negros -deficientes?
Como pensar o deficiente físico sem o “status quo” da beleza?
Quanto maior o potencial de beleza-padrão à la brasileira: “branca, cabelos lisos e feições européias”, maior o grau de unanimidade do discurso: Ah! coitadinha,mas é tão bonita!
A acidez social desumaniza a geografia do respeito à diversidade.
É preciso que segmentos organizados apreendam a divisão do silêncio, mexendo em pilares hermeticamente construídos visando somar forças sem perder marcas específicas de lutas.
A coesão dessas forças resulta numa aprofundada discussão sobre a multiplicidade de vozes que se entrecruzam, se confundem e como numa energia muda expõe discursos referenciais que possibilitem o diálogo com a produção do ser pessoa no mundo contemporâneo.
É preciso revê parâmetros e pontificar questões essenciais, todavia “naturalizadas” pelo nosso jeito europeu de pensar o Brasil:
Se a atriz que fez a tetraplégica Luciana da novela global “Viver a Vida”, fosse uma mulher negra com os belos cabelos carapinha de Áfricas faria tanto sucesso, na “democracia racial” brasileira, desbancando até a protagonista da novela uma atriz branca?
Se a Clarinha – personagem da menina Joana Mocarzel, na novela de Manoel Carlos, ‘Páginas da Vida’ fosse negra o tal do marketing social não seria mais legítimo para desmistificar , discutir e visibilizar a pessoa negra com síndrome de down ?
Pessoas negras com síndrome de down tem 50% a menos de tempo de vida em relação as brancas. A escola sabe do por quê?
E se a Clarinha fosse negra viraria boneca?
A educação “especial” como instrumento formador comprometido com populações marginalizadas poderia adotar como princípio macro a partilha de informações/formações do fazer pedagógico com o olhar das ciências, inclusive da psicologia sobre questões invisibilizadas, abrindo leques para discursos mais flexíveis na “feitura” de renovadas leituras/ consciências de tantos/tantas/diversos/diversas e diferentes protagonistas.
A construção das relações de poder na educação brasileira permanece estabelecendo espaços hierárquicos que ao segregar os diferentes, os torna desiguais no processo da inclusão-excludente.