A delegada Ana Cristina Feldner indiciou e pediu a prisão de cinco policiais no caso da morte de Abinoão Soares de Oliveira (34). A delegada, responsável pelo inquérito que apurou as causas da morte ocorrida durante um treinamento na região de Manso, apontou que houve homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, sem chance de defesa da vítima e por meio de tortura. "O que ocorreu durante o treinamento foi um massacre, totalmente fora dos propósitos do treinamento", disse durante apresentação à imprensa.
Cristina responsabilizou os tenentes Carlos Evane Augusto e Dulczio Bernardes Oliveira por assassinato e tentativa de homicídio contra outros policiais que participavam do treinamento e passaram mal. Outros três oficiais foram indiciados por tentativa de homicídio. São eles: sargento Moles Fidélis Pereira, cabo Antônio Vieira de Abreu e soldado Saulo Ramos Rodrigues.
O principal acusado pela morte do polícial, Carlos Evane, e mais dois oficiais, deveriam estar de plantão no Batalhão de Operações Especiais (Bope), mas se ausentaram para ir a Manso participar do treinamento. "A população contou com a sorte de não necessitar dos efetivos desse batalhão que naquele momento estava desguarnecido, se divertindo na região de Manso", diz a delegada. O inquérito também afasta qualquer possibilidade dos treinandos estarem cansados e despreparados, principal tese defendida pelos acusados. "Os instrutores não demosntraram qualquer conhecimentos de tecnicas básicas para se evitar esse tipo de tragédia. Se você não tem conhecimento completo do corpo humano não deveria se aventurar a levá-lo ao limíte. Aqueles homens eram treinados, pelo currículo deles dava para ver que estavam aptos a aguentar o ritmo".
Segundo a delegada o inquérito será encaminhado ainda hoje ao Ministério Público. Uma das teses de sustentação é que seja julgado na justiça comum. "Abinoão era da Força Nacional, um órgão de cooperação, não estava portanto em condição militar. A atividade em Manso era ministrada pelo Ciopaer, ligada a Polícia Civil. Além do mais os instrutores estavam em horário de folga, alguns deviam, inclusive, estar prestando serviço em outro local. O caso tem todos os ingredientes para ser julgado na Justiça Comum".
Afogamento
Durante a apresentação, acompanhada de perto pela esposa e tia, a delegada contou detalhes do afogamento. Disse que a implicância com Abinião era devido ao seu espírito alegre e conciliador. Ele havia defendido uma aluna durante o treinamento, o que teria despertado a fúria dos instrutores. "Todas as descrições que tivemos de Abinião mostravam uma pessoa alegre, divertida, amorosa. A implicância dos instrutores ficou clara durante os depoimentos. Pelas fotos podemos ver que ele usava uma boia, uma forma de marcar e humilhar".
O afogamento ocorreu após o fim do treinamento. Os instrutores pediram para todos saírem e disseram que "queria apenas o último" e todos correram desesperadamente. Abinoão foi um dos últimos a sair. Já debilitado devido aos exageros do treinamento, foi seguidamente afogado pelo tenente Evane. "Ele levantou o braço e parou de se mexer. Os instrutores pensaram que ele estava fingindo e demoraram a prestar os devidos socorros". Nesse momento da fala da delegada a esposa e tia da vítima não contiveram o choro.
O caso
O soldado da Força Nacional da Polícia Militar do Estado de Alagoas Abinoão Soares de Oliveira morreu e outros três passaram mal em um treinamento aquático na manhã do dia 24 de abril, em Cuiabá. De acordo com as informações da polícia, o treinamento fazia parte do 4º Curso de Tripulante Operacional Multimissão (TOM-M). O curso tinha como objetivo capacitar os profissionais da segurança pública para atuar em aeronaves no atendimento de ocorrências policiais, de resgate, busca e salvamento, combate a incêndio, entre outras.
Após o treinamento de resgate e salvamento aquático, o soldado Abinoão sofreu um mal súbito, recebeu atendimento de primeiros socorros pela equipe do Corpo de Bombeiros e Samu. Ele foi levado pelo helicóptero do Ciopaer ao Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, mas não resistiu e morreu. Abinoão ingressou na corporação alagoana em 2002 e estava cedido para a Força Nacional de Segurança desde 2008. Segundo a assessoria de imprensa da PM, ele deixou mulher e três filhos.
Outras três vítimas também passaram mal e foram levadas de helicóptero para o Pronto Socorro Municipal de Cuiabá. Os três foram atendidos, medicados e liberados.
Inquérito
Nesta segunda-feira, a Polícia Civil concluiu o inquérito que apura a morte de Abinoão Soares de Oliveira. Na investigação, a delegada Ana Cristina Feldner pediu todos os laudos de corpo de delito dos 24 alunos e perícia no local do treinamento. No fim do dia, a juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, da 12º Vara Criminal, concedeu habeas corpus protocolado pela Defensoria Pública e suspendeu o inquérito civil que apura a morte do soldado. A juíza considerou que o caso trata-se de um crime militar e determinou que cabe à Polícia Militar e à Justiça Militar apurar e julgar o fato. O Ministério Público Estadual é contrário à decisão.
O secretário de segurança pública de Mato Grosso, Diógenes Curado, admitiu no dia 27 de abril, três dias após a morte de Abinoão, que houve erro no treinamento para tripulante aéreo, realizado na região do Manso, em Cuiabá. Segundo o secretário, o soldado alagoano morreu afogado enquanto efetuava exercício de flutuação.