Qual a situação da população negra alagoana na ótica do processo político atual?
Quais os projetos efetivos, com resultados, que ao longo dos últimos anos os/as os poderes judiciários, executivo e legislativo trouxeram como forma de contribuição na busca de um estado não racista e menos excludente ?
Porque, nós dos muitos movimentos negros em Alagoas, não nos apropriamos do desafio coletivo de redimensionar nosso micro-território de atuação, transformando-o em território político na busca de agregar não só nossa vizinhança, mas um maior entorno nas nossas fronteiras pessoais?
Como vamos ser capazes de criarmos outros espaços se somos apartadamente homogêneos em nosso universo de concepção?
É preciso que determinemos um horizonte, um ponto comum onde nossas diferenças possam se encontrar e assim possamos africanizar pontos de vistas.
Precisamos criar novos instrumentos de inteireza que nos traga a percepção da mobilidade étnica, como forma estratégica de estilhaçar o reducionismo dos grupos e descolonizar os caminhos de via única.
Mobilidade étnica que traga consigo o poder de induzir projetos políticos que contemplem grupos historicamente excluídos e subalternizados.
Ao longo do processo construtório do movimento negro enfrentamos inúmeras turbulências e calmarias, quedas e baixas com um objetivo comum a quebra do apartheid social. E agora, porque do nosso isolamento geográfico/social?
Precisamos voltar ao flerte explicito. Flertar como possibilidade da comunicação humana. A palavra feito arte do encontro.
A construção do orgulho negro pede um esforço suplementar e coletivo em nome da dimensão plural. O flerte olho-no-olho é o desafio às nossas diferenças.
Nós, da pele preta sabemos dos altos índices de exclusão a que somos submetidos. E dos estereótipos sociais que nos são atribuídos.
Nós, da pele preta sabemos das metáforas sociais que nos afogam em um mar de retórica plena de sentidos dúbios e armadilhas conservadas em formol.
Nós da pele preta sabemos que somos frutos de uma cultura que produziu riquezas hoje invisibilizada em nome da “democracia racial contemporânea”.
Nós da pele preta sabemos que muitos e diversos traçam um painel de nossa realidade vivida, de acordo com valores e conceitos preconcebidos pelo espaço social no qual estão inseridos e se percebem legítimos em suas teorias.
Legitimidade é viver o cotidiano árido dessa história exclusivista e mesmo assim promover a insubordinação a cultura ideóloga dos colonizadores contemporâneos, de plantão.
Legitimidade é ter a coragem da nossa gente preta que a gerações vem desbravando seus orixás, suas crenças, recontando a história no universo da escola. Leia-se a Lei Federal nº 10.639/03.
As gentes de pele preta somam um percentual quantitativo e qualitativo da população alagoana, entretanto ser muitos e espalhados nos torna vulneráveis e cativos às manobras conceituais e a internalizada miopia do estado político.
Como bem nos ensina a filosofia africana é preciso continuar caminhando, agregando o coletivo como valor dinâmico das novas trilhas...
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Raízes da África