Publicamos a carta de uma professora carioca que se permite caminhar estabelecendo para si  a concepção crítica e cidadã de que toda  equidade social deve ser baseada no respeito às diferenças. Será que fatos como o relatado pela professora ocorrem nas escolas de Alagoas?

Relato de uma professora, a respeito das sutis práticas racistas de uma escola carioca.


"Denuncio, lamentando, as práticas racistas sutis, porém profundamente perversas e danosas à construção da identidade negra de jovens alunos e alunas no interior da escola.
A Escola que deve ser o lugar onde a pluralidade habita e as identidades devam se projetar de maneira afirmativa envoltas em respeito e dignidade. Não é bem assim que as relações raciais se dão neste lugar.
Nesta semana uma “importante” (sic) professora de português do ensino médio do CP II estava de posse da lista de nomes do(a)s aluno(a)s que não tinham devolvido o livro da série anterior para pegar o livro da série atual. A professora comunica aos aluno(a)s que está com a lista negra do(a)s aluno(a)s que não devolveram o livro. A professora foi questionada por uma aluna sobre o uso da palavra negra e responde “reparando” “ironicamente” dizendo: a “lista afrodescendente” afirmando que assim seria politicamente correto.
Este fato ofende e ofendeu jovens estudantes que tem consciência racial e ainda tem que ter aula com uma professora que demonstra profunda falta de respeito a negros e negras.
É lamentável ver uma professora que é especialista em análise de discurso praticar tal ato, pois esta sabia muito bem o que estava dizendo, sabendo bem o emprego e significado da palavra negra neste contexto.
Lamento pelos alunos e alunas que tem que se educar na defensiva. A sala de aula que deveria ser o espaço do direito e respeito às diferenças étnico-raciais não é assim que se apresenta.
Lamento ser nesta escola – CP II – uma escola federal que não aplica, que ignora o teor da LDB alterada pela Lei 10639/03, que é um mecanismo pedagógico para o combate ao racismo e ampliação da democracia.
Lamento pelos alunos e alunas não negro(a)s que continuarão naturalizando práticas racistas pela deseducação promovida pela professora.
Lamento que no espaço educativo não se promova o combate ao racismo e a igualdade racial e infelizmente acentua traços de uma escola de formação velha, conservadora, elitista e racista.
Lamento mais ainda que as ações de desrespeito praticadas pela professora não parem por aí. Ela costuma pintar as unhas com a logomarca do seu partido, exemplificar atividades com alusões a sua militância partidária e informar aos alunos(as) sobre o site do seu partido. Isso é assédio, não é democrático pois só ela fala, não há diálogo, não existe a preocupação em saber se jovens alunos e alunas também participam de militância político partidária ou não e como eles se sentem. Mas como tudo é educativo, para o bem ou para o mal, este fato serve como exemplo de como a militância do partido da referida professora opera no coletivo, com ações bastante antidemocráticas e racistas!
Lamento não haver um amplo debate sobre ações afirmativas no interior desta escola, pois ainda no ensino médio, um professor – homem branco – afirma que se fosse prestar exame vestibular hoje, ele pegaria sol e se autodeclararia negro, pois o objetivo é obter a vaga. Com esta declaração o professor branco estimula o estelionato acadêmico, PASMEM!!!!!
Chamo atenção para que esta equipe do ensino médio tenha mais cuidado com o que apresenta aos seus alunos e alunas, nossa juventude. Educação não é vale tudo.
Estamos e estaremos atento(a)s e acompanhando a juventude negra do Colégio para fortalecê – los para o enfrentamento ao racismo institucional, para o combate a discriminação racial na escola e na vida."

Glorya Ramos
Professora