A força-motriz do Festival foi a palavra. Cantada ou escrita fez-se verbo. Protagonista de histórias. Na verdade o I Festival de Artes e Cultura dos Servidores Públicos do Estado de Alagoas, ocorrido em 19 e 20 de março foi um terreno adubado de brotos. Talentos hibernando entre papéis obrigações. Ponto de entrada e saída. Com a vírgula agregando arte , o som da música e as possibilidades...
Iniciativa singular da Secretaria de Estado da Gestão Pública (Segesp),o Festival da Palavra trouxe a visão inovadora do despertar de talentos na criação de pontes de diálogos entre servidoras/servidores e o estado.
Uma ação estatal que realmente merece aplausos!
Parabéns a toda equipe da Segesp responsável pelo Festival
Com o conto Passagem ficamos entre os dez finalistas na categoria palavra escrita do Festival da Palavra. Ei-lo:
O tempo a seguia enroscando-se nas varizes estouradas de seu corpo. O tempo fazia-lhe sombra , como uma vida emprestada.
Tivera uma vida difícil -pensara consigo-pontilhada de dores, sonhos, amores partidos ao meio. Já fora jovem um belo espécime de mulher. Bonita, feliz.
O sorriso amarelado espalhou-se pelo rosto das lembranças que inquietas saltavam-lhe dos pensamentos.
Já fora mais ousada quando o amor lhe chegara com a força das ondas arrebatando os dias iguais atirou-se nos braços da paixão esquecendo a ponderação uma característica tão sua.
O companheiro, antes príncipe encantado estava migrando da vida. A morte já traçara o atalho de chegada.
O sangue explode dentro das veias do marido, o coração espreguiça-se e arma cadeira de descanso, mas o homem insiste em permanecer vivo. Dia após dia contrariando o prognostico médico abre os olhos e a olha com um amor desmedido.
Ela olha os olhos dele e chora. Choro de cansaço, impotência. Noites inteiras ao pé do leito. A primeira chuva da madrugada fazem-na despertar para o cheiro do orvalho anunciando mais um desafio transposto.
Vai ao banheiro do quarto de hospital molhar o rosto e espantar a tristeza. Expõe-se na frente do espelho. Conta as rugas, inúmeras... O espelho puxa lembranças..
Muitos o chamam de mestre. Mestre na arte de moldar ferro e fazê-lo objetos de arte. Mestre na arte do sorriso solto, no conquistar fregueses. É funileiro. Passeou pela vida moldando ferro.
Houve um tempo que a vida deles merecia uma bela moldura de futuro. Futuro que lhe trouxera uma carrada de filhos. Nove. Diferentes. Impenetráveis.
A dor inquieta incomoda a faz chorar calada para não espantar a certeza do companheiro. Pensa o quão difícil é ser gente grande, adulto. Revê a juventude assoprando palavras aos ouvidos emparedados pela idade. O companheiro partirá mais cedo ou mais tarde.
Chora.
Chora a relação adormecida. O amor que virou costume e tornou-se compreensivo. A mulher enlaça braços do mudo desespero do homem naufrago que apela por socorro. Um bote para evitar o afogamento- pensa ela.
É a experiência do outono quando as folhas desprendem das árvores para renascer na próxima estação. Ela sente falta do calor aconchegante do sol.
O sol tem o poder de aquecer a alma da friagem da tristeza.
Pensa em rezar, entretanto as palavras do salmo preferido se escondem na mente. Esquecimento.
O correr dos anos deixara a sensação de cansaço. Estava se sentindo exausta. Tornara irmã-siamesa do companheiro e após a partida- se pergunta- o que fará com o vazio de não ter a outra parte?
Senta na soleira do mundo esperando a dor se aclamar.
E amanhã é outro dia!