De todos os que estavam na sede da igreja Céu de Maria, em Osasco, na Grande São Paulo, na noite em que o cartunista Glauco Vilas Boas e seu filho Raoni foram mortos, em 12 de março, somente uma pessoa acionou a polícia após o crime: o próprio suspeito dos assassinatos, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, mais conhecido como Cadu. A informação é resultado de levantamento da Polícia Militar, feito a pedido da reportagem do R7, com base nos telefones dos presentes na cena do crime registrados no inquérito da Polícia Civil.

A PM levou em conta registros de chamados 24 horas antes e depois da morte do cartunista. Cadu ligou duas vezes para o telefone de emergência da PM (190), mas não efetivou o chamado e conseguiu fugir. Foi um vizinho da igreja, onde Glauco morava, quem chamou os policiais após ouvir tiros.

O fato de Felipe Iasi, que levou Cadu de carro à igreja, não ter chamado a PM levantou suspeitas. Esse foi um dos motivos que levou o estudante a ser indiciado como participante do crime [partícipe do homicídio]. No indiciamento, está registrada ainda dúvida da Polícia Civil a respeito de Iasi não ter sinalizado para uma viatura da PM quando ia para a casa de Glauco. Outro argumento que embasa o indiciamento é Iasi ter estacionado o carro em uma rua paralela ao invés de usar a garagem.

O amigo de Cadu estava sob a mira do revólver do suspeito enquanto ia para a casa do cartunista, segundo depoimentos dos dois.Na segunda vez em que foi convidado a depor na polícia, Felipe Iasi permaneceu calado, não respondendo a perguntas do delegado Archimedes Cassão Veras Junior. Ele reforça que a atitude de Iasi, de não ter chamado a polícia, é suspeita. Para ele, o indiciado teve a oportunidade de explicar em depoimento o porquê de não ter acionado a PM.

Segundo o advogado de Iasi, Cássio Paoletti, o delegado não havia dito que o convite era para indiciar o rapaz. Por isso, o defensor instruiu o cliente a se calar. Paoletti diz que os argumentos de Cassão são “fracos e de interpretação subjetiva”, pois seu cliente estava em estado de choque após ser sequestrado. Ele ainda ironiza:

– Isso [o fato de não ter ligado para a PM] não o faz coautor de nada. Ele [o delegado] deveria ter indiciado a família do casal.

A mulher de Glauco, Beatriz Galvão Veniss, também não chamou a polícia. Ela e Gercila Pinheiro, namorada de Raoni, rezavam no momento em que o suspeito conduzia o cartunista para fora, segundo os depoimentos dados à Polícia Civil.

O advogado que representa a família, Ricardo Handro, rebate a declaração de Paoletti. Ele diz que a família ficou em estado de choque e tentou, em um primeiro momento, salvar a vida de Glauco e Raoni. Segundo o defensor, a família colaborou com as investigações policiais.