O Estado muda as simbologias que identificam o passado escravocrata para não identificar as contemporâneas estruturas que estabelece a geografia da violência atingindo literalmente a população negra.
É um rascunho mal ajambrado da alforria condicional, aquela que ao libertar estabelece o vínculo da dependência. É um jogo de cabra-cega. Um faz de conta cênico.
Ainda somos escravizados pela omissão e negligência da política de domínio senhorial do estado brasileiro, apesar dos mais de três séculos e meio de “escalação’ para o trabalho forçado.
Ainda estão nos cobrando à dívida do pecúlio, como “escravos” de ganho. Nunca fomos libertos e sim “libertandos”.Uma ação gradual e paulatina de legitimar e justificar o sistema de dominação.
As formas de cimentar com barreiras contemporâneas o acesso da população negra aos grandes rincões da democracia participativa são arrogantes e camaleoas. O racismo é arrogante!
Existe uma relação incestuosa entre alguns filhos e filhas da esquerda, da direita, do centro, do sul e nordeste dessa pátria que escudados por interpretações extremistas do pacto nacionalista de brasilidade buscam subestimar ou mesmo suprimir as muitas vozes históricas, criando um código-próprio; o da morenice brasileira.
Existe um limite atemporal e ideológico que separa a epiderme “morena” da negra. Ser morena é estar mais próximo ao ideário da branquitude brasileira.
O desafio da população negra é demarcar territórios para uma participação mais efetiva no protagonismo social. Papéis de segunda ou terceira classe, como regra geral já não nos serve. Ressignificar a história da comunidade negra é uma forma de quebrar paradigmas, sufocar o imaginário social que ainda nos coloniza e em contraponto valorizar as escutas de Áfricas no Brasil, alimentando a auto-estima identitária da população oriunda.
O tráfico negreiro foi um dos negócios mercantis mais lucrativos de toda a época moderna.
Nosso discurso não é o da vitmização, ele captura a biografia de um povo e ousa ir além das possibilidades.
Segundo Mir, Luís: ‘Temos embates de sangue,problemas de mestiçagens,esforçosde ajustamento e absorção. Dependendo da região,domina o índio,o afrodescendente,o imigrante europeu. Essa gama étnica admite todos os tons e tragédias pelo modo como foi vilipendiada e violentada pela balcanização,primeiro dos colonizadores,depois mantida pelos pais da pátria independente. Isso nos impediu de ter uma humanidade brasileira, como formação social e étnica”.
Ainda somos hóspedes incômodos, sem direito ao usufruto da anistia. Ainda ocupamos as funções secundárias no sistema universal do racismo “velado” e subterrâneo.
A hipoteca social do estado brasileiro com a população negra ainda não foi quitada.
E Mir, o Luís reafirma: “As grandes revoluções e os grandes governos exigem uma pleide de homens e “mulheres” ( acréscimo nosso) especiais, que unam o compromisso, a capacidade de interpretação dos problemas nacionais, o sentido prático da política e um compromisso real com o seu povo”.