Foram três séculos e meio da forçada submissão humana do povo preto ao sistema escravocrata que imperou no Brasil de imigrantes, com isso os estereótipos da humildade, obediência e fidelidade ficaram normatizados no imaginário como regras socais, portanto é de substancial importância para subsidiar as relações sociais que histórias enclausuradas em correntes escravocratas sejam revistas e recontadas. Desconstruir a associação da servidão humana com África e os estigmas que sobreviveram ao escravagismo é tarefa árdua, mas possível.
A escola por si só não tem o poder de mudar o curso da história, todavia pode exercitar a sua reinterpretação no contexto curricular.
As leis anti-racistas tanto a federal nº 10.639/03 e Lei Estadual nº 6.814/07/AL são mecanismos que circundam o discurso pedagógico para contextualizá-lo.
Quando bem provocada a escola responde, se expande e diz a que veio.
Visando investigar valores e a partir daí construir conhecimentos com os saberes do alunado, em 2004, o Núcleo Temático Identidade Negra na Escola /SEE propôs a algumas escolas estaduais o desenvolvimento de temáticas que exercitassem não só aplicabilidade da Lei nº 10.639/03, como também envolvessem o alunado.
A professora de uma escola estadual solicitou as suas turmas que fizessem uma pesquisa sobre escravidão e racismo e que a escolha de como a pesquisa deveria ser apresentada ficou a critério dos grupos, como desafio.
A turma aceitou o desafio, arregaçou mangas e se embrenhou nas literaturas existentes, na busca de construir sentidos com base nos próprios conhecimentos.
Segundo a professora durante o processo de construção coletiva muitos dos conflitos foram acalmados. A energia da turma estava canalizada para o desafio de “ser diferente” em propostas de trabalho.
É preciso fomentar nos ambientes escolares ações e atitudes diárias e persistentes que transformem a intolerância em regras éticas de boa convivência com as diferenças humanas,estimulem a interatividade, a dinâmica do grupo, troca de idéias e experiências.
Ao pensar em compor um rap Andreza,Thaysa,Thuany,Carlos e Gilson alunos e alunas da professora da escola estadual tiveram a oportunidade genuína de experimentar durante o tempo que durou o trabalho, a intimidade da convivência pessoal,a experimentação como pesquisa e novas perspectivas pedagógicas de pensar a escola.Criaram um rap. O rap da consciência negra!

Tipo assim mano,eu tenho uma coisa pra dizer:
Esse rap quero curtir com você.
É mano esse rap é pra ficar ligado.
É o rap da consciência negra que tá bombando no pedaço
Essa história é muito grande, então vou ter que resumir.
Ô mano começa logo tenho certeza que vou curtir
Essa parada começo no tempo da escravidão, tá ligado?
Naquele tempo não existia trabalho e sim exploração.
É verdade. Os caras trabalhavam sem receber
E mal tinham o que comer.
Sim, mas agora vamos ao que interessa.
Em 1550 foi introduzida em nossa nação uma coisa chamada escravidão
O povo negro lutou pela abolição
E contra todo sistema pela nossa libertação.
Quando negros aqui chegaram eram colocados nos depósitos dos portos brasileiros, onde eram vendidos aos fazendeiros.
Os negros trabalhavam na cana de açúcar
E no garimpo um trabalho não tão limpo
A história do Brasil bombando no pedaço
Quando muitos negros eram escravos.
Rap é decisão, então vamos transformar essa história de escravidão?
Legal. E aí gostou, curtiu e aprendeu?
Vamos deixar de lado o racismo e curtir esse rap com a gente.
Beleza, meu irmão, fora racismo!

E a roda da vida continua girando e se renovando...

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