Em 11 de agosto de 2009, para a surpresa de muita gente que faz parte da segurança pública do Estado, a direção da Intendência Penitenciária foi modificada. Assumiu a função de intendente o então sub-comandante do Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel Dário Cesar. Seis meses depois, a mudança ainda enfrenta resistências de setores que comandavam, há anos, uma estrutura caótica.
As primeiras mudanças implementadas pela atual gestão surpreendem mesmo os mais céticos, que ‘torceram o nariz’ quando em seu primeiro ato o coronel nomeou três agentes concursados para administrar o Ciridião Durval, fato que se repetiu na área administrativa e de disciplina, sempre ocupados por pessoas do quadro.
Nos dias atuais as notícias de fuga dos presídios não são mais destaques diários do noticiário da imprensa policial. As fugas ainda acontecem, mas com frequência bem menor que antes. As falhas estruturais são as mesmas e o número de presos aumentou de 1647 para 2011, mas a aparente calmaria tem que ser comemorada em face ao caos que dominava o setor.
Coronel Dário era crucificado por seus críticos, que não são poucos, principalmente entre os mais antigos que fazem parte da estrutura da Policia Militar. O atual intendente é taxado por essas pessoas de teórico e com pouca experiência de campo.
Ao buscar o apoio dos agentes penitenciários, mudar a direção dos presídios, trabalhar efetivamente na transferência dos “cabeças do crime organizado” para penitenciárias federais e adotar medidas de socialização, o criticado coronel Dário conseguiu mudar um setor que muitos achavam não haver qualquer possibilidade de melhora.
Ouvido pelo CADA MINUTO o coronel Dário ressaltou a importância da transferência dos presos como um fator emocional, um recado para os demais presos que sabem que esta possibilidade é possível e consequentemente passaram a respeitar um pouco mais as regras do Sistema Prisional.
“Não existe uma mudança da água para o vinho. O que existe é um trabalho continuo. Sabemos que existem problemas enormes e eu estou falando com vocês hoje e amanhã poderemos estar noticiando uma fuga de presos, isto é inteiramente possível e não podemos esconder os problemas”, argumenta.
O Coronel Dário não esconde que tinha conhecimento que para alguns presos a permanência no sistema prisional se assemelhava a uma colônia de férias, com notícias até de churrasco e garotas de programa, fora a parte que alguns traficantes comandavam seus “negócios” de dentro da prisão.
“Não basta haver o comando, este comando tem que ser respeitado e para isso é necessário, primeiro, recuperar a auto-estima dos servidores. Essa meta tem que ser trabalhada todos os dias”, justifica o coronel, acrescentando que as unidades que hoje não são dirigidas por funcionários concursados devem, em breve, passar pelo mesmo processo.
“Um exemplo que eu dou é a fuga do Givanildo, já na minha gestão. Foram seis carros e um esquema que demandou muito dinheiro e mostrou que o Estado ainda não está preparado para coibir uma ação dessa. É lógico que houve a participação interna. É obvio, também, que muito dinheiro foi empreendido na fuga e não estamos livres que isso aconteça. Temos, então, que trabalhar diariamente para evitar que situação semelhante volte a acontecer”, adverte o intendente.
Nova Policia
Um dos integrantes do grupo de policiais militares que lutaram contra o poder dos antigos coronéis, que hoje lutam para retornar a atividade, Dário César não se esconde quando faz críticas ao modo de se fazer polícia em Alagoas.
“O papel da policia foi deturpado. Em vez de fazermos um policiamento para o cidadão o fazemos de maneira patrimonialista para defender o capital, e essa sensação de insegurança e de impunidade é reflexo dessa mentalidade”, justifica.
Dário César acrescenta que em todas as polícias que dão certo no mundo, como Canadá, Colombia e Espanha, existe uma mentalidade da polícia voltada para o cidadão. “Temos que copiar essa mentalidade aqui em Alagoas”, acrescenta.
O coronel também fala da falta de estrutura e de pessoal. Dário César diz que um número enorme de militares se aposenta ou sai da polícia por motivos diversos e que a corporação precisa de uma reposição de forma urgente para poder realizar o seu trabalho.
“Os problemas existem, mas uma coisa nesse governo tem que ser dita: pelo menos agora o policial militar pode fazer seu trabalho e prender qualquer pessoa que faça algo que vá de encontro à lei, seja ele filho de quem for, em se tratando de Alagoas, isso é um grande avanço” justifica.
Antigos Coronéis
Sobre as mudanças na Policia Militar, Dário César foi incisivo quando disse que Alagoas estava na contramão do que acontecia no Brasil, enquanto os outros estados diminuíam o tempo de ativa dos coronéis de oito anos para quatro, em Alagoas se aumentava o prazo para dez, o que causou vários problemas.
“Os coronéis viraram verdadeiros cardeais que lutam para manter seus privilégios, usufruem do que a polícia pode dar e não executam o trabalho que a sociedade espera deles. A Polícia Militar passa por uma renovação, mas esse processo tem que ser ainda maior. Instituições como a Policia Federal não se tornaram respeitadas de uma hora para outra, elas se fizeram respeitar, souberam cortar da própria carne e qualificaram o seu pessoal. É assim que se adquire respeito da sociedade”, afirma o intendente.

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