A naturalizada suspeição sobre o povo negro é uma das grandes violências contemporâneas.
Militante dos movimentos sociais e ocupante de um dos mais altos cargos na escala hierárquica do poder político na capital da república, a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores,Janete Pietá (PT-SP), não passou pelo teste de qualidade da moça do cerimonial da Presidência da República e por isso foi barrada ao tentar participar da solenidade de lançamento dos programas Bolsa Copa e Bolsa Olímpica, pelo presidente Lula, ocorrido na terça-feira 26 de janeiro, em Brasília.
A moça do cerimonial da Presidência da República desconhece e não concebe o fato da deputada negra ser deputada, afinal é preciso que cada um ou uma conheça o “seu lugar”, internaliza a moça do cerimonial.
Qual a dimensão política da ideologia escravagista no Brasil contemporâneo?
Atitudes como as da moça do cerimonial da Presidência da República são freqüentes cotidianas e naturalizadas pela “ainda” agregadora herança histórica da colonização brasileira: tolerar negros é uma coisa, vê-los no poder já é bem diferente.
O racismo é avassalador em sua essência de estabelecer espaços, segregar lugares, como uma reinvenção contemporânea de dominação social.
Atitudes como as da moça do cerimonial da Presidência da República ousam incitar políticas públicas que reeduquem a memória-colônia do povo brasileiro.
Camaleão, o racismo assume novos e vários formatos, experimenta, cria renova e mais e mais vai agregando uma platéia cativa.
A moça do cerimonial da Presidência da República é uma dentre muitas moças (na sua grande maioria de pele claríssima) dos muitos cerimoniais da República do Brasil que exercitam as atividades cerimonialistas a partir da estreita associação com as percepções e interpretações de como a República “pensa” a população negra.
A ação do racismo devassa e descortina a sordidez humana na segregação ao semelhante.
O racismo declarado da moça do cerimonial da Presidência da República à parlamentar negra do PT traça uma ideologia inversa a propagada pela equivocada lógica social de que o negro é discriminado por conta de sua condição econômica e não pela cor da pele.
Se a moça do cerimonial da Presidência da República não pediu a nenhum outro deputado e/ou deputada um demonstrativo de extrato bancário, porque barrou a deputada federal?
Motivo? Ela é negra! Ou foi excesso de zelo?Quer dizer, a lógica da economia cai por terra. Então, de fato estamos falando sobre racismo, puro, simples e indiscutível.
O que pensam os partidos políticos sobre a política de promoção da igualdade racial? Porque essa notável ausência de produção sistematizada sobre a política de igualdade racial nas pautas do parlamento?
Afinal o que dizem os partidos políticos quando militantes/e ou parlamentares são agredidos dessa forma?
Ser negro no Brasil é viver um permanente exílio social.

Raízes da África