A hipótese de suicídio está ganhando força a cada novo indício encontrado pela polícia civil na investigação da morte do ex-secretário Estadual de Inserção e Assistência Social (Seias) de Alagoas, Fernando Soares, 63 anos. Ele foi encontrado morto na tarde de domingo, com uma faca cravada no tórax, em Ponta Negra, bairro da zona Sul de Natal.
A informação nova que se acrescenta ao caso reforçando a possibilidade do suicídio é o bilhete encontrado junto ao corpo. Sem querer revelar o conteúdo da mensagem, o delegado da 15ª Delegacia de Polícia em Ponta Negra, Luís Lucena, que está à frente das investigações, revelou apenas uma das frases do bilhete: “Outrora não me era provado a ideia de renúncia”. O papel escrito à mão passará por uma avaliação grafotécnica para comprovar a autenticidade dele.
“Não descartamos nenhum possibilidade mas, por enquanto, a mais forte é a do suicídio, pelos vários fatores que estão aparecendo nas investigações”, explicou Luís Lucena, que ontem visitou a rua Praia de Simbauma, onde o corpo foi encontrado, ouviu moradores do local e falou com familiares de Fernando Soares.
Segundo o delegado, a hipótese começou a ser levantada pela forma como o corpo foi encontrado. “A faca foi cravada abaixo das costelas do lado frontal esquerdo do tórax, onde dificilmente alguém de fora do veículo ou no banco do passageiro conseguiria alcançar; os pés estavam repousados, e não aparentavam ser de alguém que tivesse tentado uma reação; o corpo também não apresentava escoriações, descartando a possibilidade de luta corporal ou tentativa de enforcamento; o sangue apenas escorrido, e não salpicado, como deveria ser caso a faca entrasse com violência no corpo do ex-secretário; e as mãos dele estavam acima das pernas e com os dedos levemente curvados, como se elas tivessem segurado o volante do veículo com firmeza, talvez para aguentar a dor causada pela faca e, depois, o soltado”, explicou Luís Lucena.
A forma como o carro, um Gol prata de placas MUU 6897, de Major Isidoro/Alagoas, foi encontrado também levou à possibilidade do suicídio, como apontou o delegado. O veículo que pertencia a Fernando Soares estava estacionado em baixo de uma árvore plantada na calçada de uma residência, por isso, ele deve ter parado lá ainda durante o dia. Os vidros estavam fechados, a chave na ignição - como informou o delegado - e apenas a porta do motorista destrancada.
O corpo de Fernando Soares foi enterrado no cemitério Nossa Senhora da Piedade, em Maceió, Alagoas, na tarde de segunda-feira. Além de familiares e amigos, algumas autoridades de Alagoas estiveram presentes, como o senador Renan Calheiros (PMDB), de quem ele era assessor, e o prefeito de Marechal Deodoro/AL, Cristiano Matheus (PMDB) e o próprio ex-governador.
Família espera resultado dos laudos
A família do economista Fernando Soares continua cética quanto à hipótese de suicídio. Segundo o irmão dele, Luiz Soares da Silva, que mora em Mossoró, o suicídio é algo que ele jamais esperaria do ex-secretário.
“Fernando era um homem de muitos projetos, planos, e é difícil acreditar que ele tenha tirado a própria vida. Além disso, ele era uma pessoa muito religiosa, espírita, que sabia muito bem as consequências para quem faz uma coisa como essa”, afirmou o familiar.
Luiz Soares disse que prefere esperar os resultados de outros exames para pensar na possibilidade. “Nós estamos surpresos com tudo isso. Até pouco tempo atrás, com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), acreditávamos em latrocínio. Depois, fomos surpreendidos com a informação de que os pertences antes desaparecidos foram encontrados em uma pousada em que ele não havia a necessidade de se hospedar, já que morava em uma casa alugada há algum tempo. Vamos esperar a perícia que será feita na faca e nas roupas para ver se há marcas de impressão digital”, afirmou o irmão do ex-secretário.
Segundo Luiz Soares, o laudo do médico legista Jerônimo Rolim descartava, inicialmente, a hipótese do suicídio. “Ele falou para a família que, com a experiência de quem tem 40 anos de medicina, não havia a menor possibilidade de ser um suicídio”, revelou.
Polícia traça linha de investigação
A faca, uma peixeira de aproximadamente 12 polegadas, reforçou a possibilidade do suicídio, para a investigação. “Pelo fato dela ser nova, isso minimiza a possibilidade de assassinato. É difícil também alguém comprar uma faca unicamente para matar uma pessoa e depois ainda deixá-la no local do crime”, contou o delegado Luís Lucena. Além disso, o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) observou algumas marcas menores provocadas também por faca acima de onde a lâmina foi cravada, como se Fernando Soares estivesse procurando o local mais adequado, sem costelas, para fincar a peixeira.
Com o corpo de Fernando Soares foi encontrado apenas a quantia de R$ 126 no bolso da calça, sem documentos, celulares, tampouco carteira. Isso, levou a investigação a apontar inicialmente para o latrocínio (roubo seguido de morte) como causa da morte. “Como ele estava com carteira e nenhum outro pertence, suspeitamos que houvesse sido um latrocínio, mas depois recebemos a informação de que esses pertences haviam sido deixados em uma pousada em Ponta Negra. Como saiu apenas com o dinheiro, talvez o tenha utilizado somente para comprar a faca”, revelou o delegado Lucena.
Nessa pousada, Fernando Soares havia passado cerca de duas horas ainda no sábado. Estava bastante nervoso, segundo o recepcionista do estabelecimento e pediu alguns talheres – garfo e uma faca que não é a mesma encontrada no corpo do ex-secretário – mesmo o local não dispondo de nenhuma alimentação aquele horário. O chuveiro do banheiro do quarto que ele se hospedou também estava quebrado na base e os fios que aquecem a água, arrancados, como se houvesse existido ali uma primeira tentativa de suicídio, apontou o delegado.
Economista se dedicava a novo projeto
Fernando Soares havia deixado Maceió há cerca de três meses e chegado a Natal, para se dedicar ao projeto do Instituto Baraúna, que trabalha na preservação ambiental do Semi-Árido. “Ele era o homem do Semi-Árido e, podem ter certeza, que eu vou continuar os planos dele”, declarou, emocionado, Luiz Soares.
Depois de ser diretor da Secretaria de Segurança Pública, superintendente do Ibama e secretário da Seias, Fernando Soares se dedicou à causa do Semi-Árido, desenvolvendo projetos ligados à preservação ambiental dessa vegetação com o SOS Semi-Árido – ação semelhante ao SOS Mata Atlântica. Implantava técnicas de exploração sustentável e de irrigação.
A causa da preservação do Semi-Árido, inclusive, fez Fernando Soares renunciar a mulher e os três filhos, que ficaram em Maceió enquanto o administrador estava no RN.
Médico legista acredita em homicídio
O médico legista do RN Jerônimo Manoel de Mendonça Rolim que realizou a necrópsia no economista alagoano, acredita que Fernando foi vítima de homicídio, por achar raro suicídio com o uso de arma branca. “São raríssimos os casos de suicídio onde se utiliza uma faca”.
Rolim faz uma ressalva “Nas mãos da vítima não foi encontrado nenhum tipo de lesão. Não existem sinais de luta. Isso chama a atenção”. Sobre as declarações do delegado Luís Lucena, o legista explicou: “Se a faca foi cravada de baixo para cima ou se ocorreu o inverso, isso não significa suicídio”.










