É uma loja de departamentos e a cena se dá na seção de brinquedos.
De pé segurando um choro incontido a pequena menina fala rápido buscando meios de protelar a decisão da mãe: Mãe, eu quero aquela boneca!
Após a expressão de profundo desagrado veio à palavra ordenadora: escolha outra. Aquela, não!
As pessoas, meio que disfarçadamente, acompanhavam o desenrolar da cena algumas numa aposta silenciosa, torcendo pela vitória da infância.
A mãe percebendo a indisfarçável solidariedade do entorno, pontua com uma frase a sua condição de dona da história: Eu sou sua mãe e você tem que aprender a me obedecer, entendeu?
Unindo a fala ao gesto dirigiu-se ao caixa e efetivou a compra da boneca “indesejada".A frustração da criança era visivelmente perturbadora e ousando transgredir uma lógica que fugia da sua compreensão ainda insiste: Mãe?
Silêncio! Seu desejo do brinquedo fora reduzido as apertadas concepções do mundo adulto. O desapontamento fez com que lágrimas descessem livremente. A vendedora, constrangida, entrega a boneca embalada para a mulher que imediatamente a transfere para os braços da menina. O poder esmagador do pátrio poder faz com que a pequena desista do combate familiar e acolha timidamente a nova companheira de brinquedos..
A mãe satisfeita pela compreensão filial promete-lhe um sorvete. Tudo em nome da paz!
“O diálogo entre mãe e filha o tempo todo foi construído por frases curtas e expõe de uma forma contundente o olhar interiorizado e marginalizado das imagens ‘não catalogadas” socialmente, dando fôlego a tensão nas relações humanas.
Ao sair da loja a criança agora curiosa questiona: Mãe porque a senhora não comprou aquela boneca? E a resposta veio ácida: Você não viu que a boneca é negra? Você não viu?
E a boneca da contenda  voltou a prateleira da loja. Quem sabe uma próxima vez!