Atuar com a temática negra exige uma escuta atenta às histórias que não se conta em sala de aula, o currículo oculto. É preciso apreender a ótica do respeito à diversidade para que possamos criar parâmetros de engajamento social, político, cultural, étnico e ético. Fazer escola é cada vez mais formar cidadãos e cidadãs que aceitem as muitas formas peculiares de ser cada pessoa, ou que o outro/outra é diferente, mas diferença não é, e não pode ser sinônimo de desigualdade.
Em 2006, o então Núcleo Temático Identidade Negra na Escola, da SEE/AL desenvolveu o Projeto “Viagem Viva pela História de Alagoas”, que consistia em participação no Ciclo de Palestras “Agosto Negro na Educação” e numa viagem-visitação ao Instituto Histórico e Geográfico, partindo do princípio de que “viver” a história torna o conhecimento mais prazeroso.
Na verdade buscávamos promover uma associação do substantivo viagem - rota giratória que vai de um lugar - história pessoal- a outro- construção da história coletiva - e com isso envolver, de uma forma lúdica meninos e meninas de escolas públicas na proposta do conhecer, do ser, do expressar-se a partir do que é vivido.
A primeira “viagem” foi feita de ônibus do percurso da escola até o espaço em que acontecia o Ciclo de Palestras “Agosto Negro na Educação”.
A segunda “viagem” foi da escola até o Instituto Histórico. É no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas que encontramos as relíquias- “Coleção Presença” que sobreviveram ao “Quebra de 1912”, quando num ato de intolerância religiosa, muitos terreiros da capital alagoana foram quebrados, provocando a morte da yalorixá Tia Marcelina. Participaram desse projeto educacional, cerca de 50 alunos e alunas de uma escola estadual. Durante a viagem de ônibus professoras da escola promoveram uma "palestra móvel" sobre a questão do racismo, o respeito à diversidade e o estudo das relações inter-raciais.
No Instituto Histórico e Geográfico, meninos e meninas foram recepcionados pelo seu presidente, Jayme Lustosa de Altavila que ressaltou a importância do museu como um dos mais importantes centros da memória alagoana. Localizado no centro da cidade de Maceió, o Instituto histórico foi fundado em dois de dezembro de 1869.
Segundo Wikipédia, a enciclopédia livre: “O Instituto abriga o mais representativo acervo iconográfico e documental sobre a história de Alagoas, além de conjuntos de interesse arqueológico e etnográfico, obras de arte, hemeroteca, fototeca, biblioteca e arquivo. Mantém o Museu do Instituto Histórico e Geográfico, onde parte do acervo se encontra exposto permanentemente. Promove colóquios, cursos e seminários e realiza apresentações musicais regularmente”.
Após a visita foi proposto a meninos e meninas transformarem em palavras a sensação da "viagem-visita". O título da redação foi “Viagem Viva pela História de Alagoas”. As seis melhores redações foram contempladas com um kit de livros e os/as vencedoras foram recepcionadas com um café da manhã, por uma autoridade da educação local.
Nos relatos desses meninos e meninas podemos encontrar seus modos de olhar, suas visões, a força da palavra no evidenciar outros saberes adquiridos , fortalecendo, com isso a concepção de que ter o poder do conhecimentos é a base para a construção de uma educação que dialogue com a diversidade. Eis o que diz uma menina de 10 anos sobre a visita:
Olá, eu sou Gerdiane, tenho 10 anos foi a primeira vez que fui para o museu. Primeiro, antes de olhar os quadros vi o Dr. Jaime e o professor Roberto. Depois eu vi o Euclides da Mata pintado por Rosalvo Ribeiro. Também vi Alfredo de Barros Lima Junior pintado por Rosalvo Ribeiro. Gostei de ver Santa Ana e a cruz de maracanduba feita de madeira forte. Tem uma cadeira em ouro do século XIX, um cofre de metal, Nossa Senhora das Dores feita de madeira. A máscara totalmente derretida. Achei muito triste aquelas bolas de fogo que acorrentavam os negros, colar de criança feitos de tangas em algodão. Os pentes em madeira da tribo Carajá e cintos de folhas, a pulseira em buriti feita de pena de besouro e o colar de miçangas.
Durante a viagem de ônibus a professora falou sobre o racismo. Ela mandou a gente encher uma bola bem enchida e soltar a bola. Aí depois ela perguntou porque os balões voaram? Porque todos os balões são feitos de ar ,com isso ela quis dizer que não importa a cor, mais sim o que nós somos de verdade.”
Educar é um exercício contínuo de reescrever a história. Que o digam a Lei Federal nº10. 639/03 e Lei Estadual nº 6.814/07.

Raízes da África