"Marcas do que se foi; Sonhos que vamos ter; Como todo dia nasce; Novo em cada amanhecer". Esses versos tão comuns traduzem os sentimentos de renovação e esperança para aqueles que conseguiram "apagar" os momentos ruins vividos ao longo do ano.
Em 2009 certamente foi o melhor período para aqueles que conseguiram superar dificuldades e alcançar os objetivos. Para outros ficou literalmente eternizado, com marcas tão profundas que nem mesmo o tempo conseguirá apagar. No dia 9 de julho de 2009, cinco pessoas da mesma família foram executadas a golpes de facão, dentro da própria residência. Uma galinha, encontrada morta no quintal do vizinho, teria sido o estopim que motivou o crime.
A tragédia conhecida por Chacina do Rangel completa hoje 6 meses. Para os sobreviventes o tempo não passou e as lembranças do crime ainda causam medo aos moradores do bairro. Para eles, as marcas não se foram e os sonhos não nasceram como um novo dia a cada amanhecer.
"Essa rua ficou marcadapara sempre. Nunca mais será a mesma", revelou a dona de casa Aurea Ambrosina da Conceição, 52, vizinha de Evanize Soares dos Santos, 37, que estava grávida de gêmeos quando foi assassinada com 17 golpes de facão. "Meu neto Luiz Mateus de 11 anos era amigo dos filhos dela e depois da tragédia ele não fica mais sozinho no banheiro, a gente tem de ficar na porta quando ele entra", contou. "As lembranças nunca serão apagadas".
Esse mesmo sentimento é compartilhado com os demais moradores do bairro, que ainda se assustam ao serem questionados sobre o que ocorreu no dia 9 de julho do ano passado. "Não dá pra gente falar sobre isso. Mesmo depois do tempo, a dor ainda é a mesma", revelou outra dona de casa pedindo para não ter a identidade revelada.
A casa humilde, de apenas um quarto, onde morava Evanize Soares dos Santos e seu marido Moisés Soares Filho, 36, pai de Raíssa Soares dos Santos, 2; Raquel Soares dos Santos, 10; e Rair Soares dos Santos, 4; - todos mortos - foi demolida. No lugar está sendo erguida um santuário. No alicerce de pedras, pássaros sobrevoam delineando um espaço que um dia serviu de amparo para a família Soares. Em frente à construção, as paredes de um outro casebre no chão.
Lugar onde morava Carlos José e sua esposa, Edileuza Oliveira, os assassinos confessos. Atualmente, assim como os tijolos em ruínas, estão as suas vidas enclausuradas. Ele continua isolado em uma cela no Presídio PB I,
em Jacarapé. Edileuza
está presa no Centro de Reeducação Júlia Maranhão, em Mangabeira, em companhia de seu filho, um bebê de 7 meses. "Ela continua sem o convívio com as demais reeducandas por ordem judicial. Mas, seu comportamento é considerado bom e tranquilo", disse Suzana Lima, diretora do Centro de Reeducação Júlia Maranhão.
Mesmo sem culpa, os familiares dos assassinos sofrem preconceitos. "O povo trata mal, fica indiferente quando sabe que sou tio dele", revelou Valdemir Soares. Triste pela reação inescrupulosa do sobrinho, Valdermir afirma que o presídio é o melhor lugar para abrigar o autor do crime,apesar de reconhecer o arrependimento de Carlos.
"Quando fui visitá-lo ele chorava bastante e dizendo está muito arrependido. Mesmo assim, ele tem de pagar pelo que fez e não sair de lá, até para sua própria segurança", afirmou. Valdemir mantem uma relação amigável com a família das vítimas e é voluntário na construção do santuário da chacina.