Alagoas desconhece a dimensão simbólica da história das Áfricas em terras alagoanas.

07/01/2010 17:57 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Museu em grego que dizer museion, ou seja, o templo das musas que eram filhas da memória “Mnemósine”, protetora das Artes e da História. A deusa Memória dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-los para a coletividade.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares é um museu a céu aberto. Um museu vivo que nos transporta para entre a memória da intolerância humana e a resistência de refugiados escravizados e permite que a sociedade possua referenciais para a valorização e conhecimento da história negra brasileira,como também reflita e compartilhe conhecimentos e vivências sobre um passado escravocrata, ainda tão presente nos dias atuais.
Imagine se não tivéssemos o Parque Memorial Quilombo dos Palmares para recontar a saga de negras e negras heroínas que estabeleceram histórias de resistência e igualdade?
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares fica localizado na Serra da Barriga que foi inscrita no Livro de Tombamento Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto do Patrimônio Histórico - Artístico Nacional –IPHAN, em 1988 foi reconhecida como Monumento Nacional, através do Decreto 95.855. O Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, é símbolo da resistência negra à escravidão, graças ao Quilombo dos Palmares, refúgio dos escravos fugitivos. É um bem de valor cultural incalculável, cuja dimensão simbólica envolve a produção e a reprodução das culturas dos quilombos, o signo de identidade de um povo, o escravismo da época, inda hoje expresso no descaso com qual esse patrimônio é tratado.
Inaugurado em 2006 o Parque Memorial Quilombo dos Palmares é retrato vivo do descaso institucional. Espaço alternativo poderia ser atrativo para uma diversidade de turistas, tais como de negócios; desportivos; aventuras; religiosos; culturais; científicos; gastronômicos; estudantis; congressos, seminários; e ecológico, dentre outros.
Lamentavelmente a acessibilidade ao Parque, entre emendas parlamentares e alarde político, ainda, não saiu do papel e lá se vão cinco ou mais anos... Quem nos últimos anos vem exercendo controle social em relação ao abandono do Parque?
O Restaurante Kúuku-Wáana (banquete familiar), construído no Parque continua fechado desde sua inauguração em maio de 2006. Quase nada funciona. E o Parque Memorial Quilombo dos Palmares é um museu dentro de um mundo de histórias. No Parque temos o museu histórico, de ciências, arte, e porque não dizer um ecomuseu?
É urgente que o estado de Alagoas estabeleça para o Parque Memorial Quilombo dos Palmares estratégias para o desenvolvimento sustentável, gerando assim emprego e renda com o turismo receptivo; turismo social (empresarial) e de massa; como também lazer para população local
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares desde seu nascimento tem vocação turística, é um lugar de descobertas! O Parque por si só possui atrativos, por excelência, capazes de motivar correntes turísticas de outras regiões do País e do exterior. Apesar da deficiente acessibilidade é um perfeito lugar para os adeptos de trilhas. Mas sem a propaganda oficial dificilmente haverá turismo permanente no Parque. Se propaganda é a alma do negócio, com certeza o Parque não é um bom negócio para o estado político de Alagoas.
Em 2006 realizamos um projeto chamado: Uma Viagem Viva a História de Alagoas, e meninos e meninas vivenciaram o conhecimento sobre museu e o aluno Cícero Henrique traduziu a visita em palavras: “Segunda 28 de agosto de 2006, um dia como outro qualquer se não fosse uma viagem no tempo e no espaço. Fui de um espaço a outro, saí de meu tempo e cheguei a um tempo em que tudo era estranho, desde um vaso indígena, a um objeto de tortura. Da arte para dor. Me perguntei se vi alguma diferença. Sim, muita. Como uma coisa tão linda e delicada como a arte poderia ficar tão perto da dor e da incompreensão humana. Parei diante de um tronco e viajei em minha imaginação. Pensei como o ser humano foi capaz de causar tanta dor e sofrimento a seu irmão de espírito por causa da cor de sua pele. Voltando a mim cheguei a conclusão que o respeito e a compreensão entre os seres humanos é o ponto de partida para uma vida de paz entre os seres de culturas diferentes.
Fora daquele espaço concluí que não é a cor da pele que faz alguém ser melhor ou pior, mas sim o que se leva no coração, o amor, o caráter e o respeito ao próximo, principalmente a si mesmo”.
É preciso que tenhamos ações permanentes e consolidas que valorizem o imenso patrimônio histórico-cultural que temos no estado de Alagoas que é o Parque Memorial Quilombo dos Palmares - o primeiro complexo arquitetônico de inspiração africana no Brasil e o único projeto afro-cultural do continente americano.
Em seu discurso de inauguração, o estado brasileiro, na figura de Gilberto Gil então ministro da Cultura fez a seguinte declaração: “ (...) Hoje entregamos a vocês o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que vem atender uma reivindicação de quase um quarto de século da comunidade negra brasileira e vem legitimar Palmares como referencial maior da presença negra no Brasil. Há anos, Palmares foi tombado e está sob a guarda de nossa Fundação Cultural Palmares, hoje ela ganha ainda mais fôlego e projeção, definitivamente reconhecida como um de nossos mais importantes acervos históricos e pólos culturais do país.
O Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Palmares, não está aqui apenas entregando uma obra, mas várias possibilidades que esta obra dispõe, como a realização do turismo étnico; o intercâmbio cultural; a troca de experiência, reflexão, capacitação e, sobretudo, um novo olhar sobre o legado cultural da presença negra no solo brasileiro (...)
É urgente que os agentes, entidades, acadêmicos, militantes, ativistas, associações ligadas a etnicidade negra e aos direitos humanos, que por quatro décadas reivindicaram a valorização da Serra da Barriga façam valer a nossa resistente história africana,para que ela não saia do foco e vaze pelas frestas da invisibilidade.
Que o estado alagoano se aproprie da organização política na busca da equidade e igualdade humana para que o discurso do governador de Alagoas, na inauguração do Parque, em 2006 se transforme em ações práticas: “Neste momento, ao inaugurar este Parque Memorial Quilombo dos Palmares, estamos perseverando no caminho dos quilombolas. Não queremos ficar apenas na homenagem aos heróis e heroínas negras que viveram e brilharam nesta serra – queremos manter-lhes vivos os exemplos, aprender e espalhar as lições que elas e eles nos ensinaram. Queremos, neste terreiro quilombola, perseverar na luta pela autonomia e desenvolvimento de nossa comunidade. Queremos unir cultura, história, conscientização, cidadania, inserção étnica e crescimento econômico.”
 

 

 

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