Eram aproximadamente cinco horas da manhã do dia 06 de dezembro de 2007, fazia pouco tempo que a Polícia Federal estava sob nova coordenação e o que parecia ser uma quinta-feira qualquer era na verdade o início de um novo capítulo na história recente de Alagoas.

As primeiras informações davam conta que uma operação que juntava a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público faria 85 mandados de busca e apreensão e 40 mandados de prisão, o que por si só já representaria um fato importante, mas quando os nomes dos presos e investigados começaram a ser revelados logo se viu que aquela não era uma quinta-feira qualquer.

Os agentes federais vasculharam residências de pessoas até aquele momento intocáveis dentro da “sociedade alagoana”, escritórios e até a sede da Assembléia Legislativa, então situada provisoriamente no prédio da Associação Comercial, em Jaraguá foi invadida pela PF.
Quando cada nome de um deputado, ex-deputado ou figura importante era anunciado como preso aumentava a esperança entre os alagoanos que algo novo estava surgindo, que finalmente a história começava a mudar.

Já na primeira coletiva, o superintendente José Pinto de Luna e o delegado responsável pela operação Janderlier Gomes, começaram a explicar que as investigações apontam desvio de R$ 302 milhões dos cofres do Legislativo, uma quantia maior que o mensalão do DEM, atual escândalo que toma conta do noticiário nacional durante os últimos dias.

A esta quinta-feira seguiu-se que deputados, assessores, políticos, policiais e empresários foram indiciados em um inquérito que hoje, 2 anos depois, ainda teve seu desdobramento final.
Após a Operação Taturana ser deflagrada, foi criado em Maceió por lideranças sociais, intelectuais e personalidades políticas o Movimento Social Contra a Criminalidade em Alagoas (MSCC).

 A imprensa noticiou os bastidores das fraudes nas folhas de pagamento salarial da Assembléia e anunciou a existência de uma folha composta por servidores fantasmas, a famosa Folha 108.

Desdobramentos e Afastamentos

Membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL), Procuradores de Estado e servidores da própria Assembléia fizeram em janeiro de 2008 uma auditoria na folha de pagamentos da Casa. O Ministério Público do Estado impetrou ação com pedido de que os deputados que compõem a Mesa Diretora e que foram indiciados pela Operação Taturana fossem afastados dos cargos de comando na Casa de Tavares Bastos. Após indefinição sobre magistrado que deveria julgar a ação, a decisão ficou nas mãos do juiz Gustavo de Souza Lima.

A Comissão formada pela OAB para auditar a folha salarial da Assembléia não chegou a resultados satisfatórios e disse ter encontrado obstáculos ao acesso às informações.
O juiz Gustavo de Souza Lima decidiu então pelo afastamento dos deputados indiciados dos cargos que ocupavam na direção da Assembléia. Em fevereiro de 2008, o Tribunal de Justiça deferiu pedido de retorno e deputados afastados e ocupantes da Mesa Diretora retornaram aos postos de administração da Casa. Informações “vazaram” e a imprensa começou a revelar quem integraria a folha fantasma da Assembléia Legislativa.

Em março de 2008, o presidente do Conselho Nacional de Procuradores Gerais de Justiça e 20 Procuradores Gerais se reúniu em Maceió para manifestar apoio à atuação do Ministério Público do Estado de Alagoas, que tinha à época Coaracy Fonseca como Procurador Geral. Daí, o Ministério Público do Estado pediu ao Tribunal de Justiça o afastamento dos deputados indiciados.

Com a Mesa Diretora esfacelada, ato administrativo desta mesma Mesa Diretora, contraditoriamente, concedeu poderes de gestores da Casa para os deputados Alberto Sextafeira e Ricardo Nezinho. Ainda em março, o Tribunal de Justiça decidiu, após outros desembargadores averbarem suspeição, que o então desembargador Antonio Sapucaia iria decidir sobre o afastamento de parlamentares dos seus mandatos.

No final de março de 2008, em decisão inédita e histórica, Antonio Sapucaia determinou o afastamento do mandato de 10 deputados indiciados pela Operação Taturana. O Procurador Geral de Justiça Coaracy Fonseca e o desembargador Antonio Sapucaia passaram então a receber ameaças de morte.

Retorno e sensação de impunidade

O delegado Janderlier Gomes, em um trabalho desgastante, entregou o inquérito a Justiça, nele está contido, de acordo com a PF,provas irrefutáveis, gravações telefônicas, documentos , todas as comprovações necessárias sobre o esquema.

Após Quinze meses de afastamento, oito deputados que tiveram seu afastamento decretado, dois já haviam retornado em Janeiro de 2009, retornaram aos cargos no dia 12 de julho deste ano após uma decisão do presidente do STF , Gilmar Mendes.

Os deputados Antonio Albuquerque, João Beltrão, Cícero Ferro, Arthur Lira, Nelito Gomes de Barros, Isnaldo Bulhões Junior, Dudu Albuquerque, Marcos Ferreira, Edival Gaia Filho e Maurício Tavares estão hoje na Assembléia Legislativa e todos são candidatos a reeleição em 2010

Números da Taturana

O inquérito, presidido pelo delegado Jandelyer Gomes, teve como resultado 10 indiciados, entre eles um conselheiro do Tribunal de Contas, 15 deputados, 11 ex-deputados, dois prefeitos, três secretários municipais, cinco candidatos nas últimas eleições, seis bancários, 30 funcionários da ALE e 10 familiares de políticos.

Ao todo são 13 volumes de inquérito policial, 94.325 páginas, 233 laudos produzidos, 399 pessoas ouvidas e 30 carros apreendidos.