Ninguém vai à rádio, jornal, televisão dar testemunho de graça recebida na religião afro

06/12/2009 12:52 - Raízes da África
Por Arísia Barros

1º de fevereiro comemora-se o quebra-quebra dos xangôs alagoanos e 02 de fevereiro, aniversário de morte de Tia Marcelina, completando 94 anos. Fato esse que marca a extinção das antigas casas de cultos afro-brasileiros em Maceió, Alagoas, os xangôs, como se chamavam na época, hoje terreiros, de maneira inescrupulosa, bárbara, tratados como animais de maneira desumana, pela polícia civil, como nos tempos da escravidão.
Os sacerdotes e sacerdotisas mais visados nessa nojenta e vergonhosa perseguição fugiram para outros estados pela conivência do governo, entre eles a yalorixá Tia Marcelina permaneceu. Africana, dona do terreiro que tinha seu nome, no dia 1º de fevereiro de 1912, recebeu na ocasião do quebra-quebra, um tremendo golpe de sabre na cabeça, tão violento que a deixou prostrada no chão, banhada de sangue.
Eram considerados os mais antigos terreiros: o de mestre Felix, funcionava em Jaraguá e tia Marcelina, na Rua da Aroeira, onde hoje é a Praça Sinimbu e os demais Manoel Guleiju, Manuel Coutinho, Chico Foguinho, João Catarina, Pai Adolfo, Pai Aurélio, Manuel Martins, João Fiufiu, Manuel do Loló, todos descendentes de africanos.
Tia Marcelina gozava de enorme respeito e estima era considerada a mais respeitada mãe de santo em Alagoas. Foi contemplada com a “Coroa de Dada”, irmão mais novo de xangô pela África, talvez isso tenha concluído para aumentar a ira da soberania no quebra de 1912. Isso nos causa, hoje em dia, uma revolta. Foi com essa política da Liga dos Combatentes e do Governo do Estado aliciados nessa triste memória. Qualquer denúncia de brancos implicava em prisões e constrangimentos, não resistindo ao violento impacto silenciaram os atabaques dos cultos afros e passou a chamar-se “xangô rezado baixo”, isto é, em surdina. No silenciar desses tambores foi quando, eu, Mãe Mirian, comecei a freqüentar a religião por motivos de saúde, em 1974, com meus 12 anos de idade na casa da Yalorixá Amália Dantas chegada recentemente do Rio de Janeiro, onde se tocava em caixotes de sabão vazios, portas fechadas e vigiando a polícia que na maioria das vezes batia a porta e levava todos presos.Isso era na rua São Bernardo, em frente ao Mercado de Jaraguá. Depois então mudou-se para rua Castro Alves, no Poço, Nação Gego Nagô, em uma festa de Oxum, a polícia chegou, levou tudo do peji e todas vestimentas do santo, feito trouxa na própria saia das filhas de santo, colocada na cabeça e levaram para a 2ª delegacia em Jaraguá, no outro dia tocaram fogo em tudo, atrás da delegacia. Outros babalorixás faziam mesa de jurema e os orixás incorporavam como africanos e davam nome de caboclos, mas quando a polícia chegava, apanhavam, se reclamassem eram presos e desmoralizados com baixas palavras, saiam até com panelas de comidas na cabeça pelas ruas para as delegacias. Lembro nomes de alguns; João Siri, Nozinho, Maria Amélia, Alzina, Angélica, Maria Tereza, Mialê, Aurélio, João Baiano, Maria de Alcântara e outros.
Religião afro é uma religião milenar que existe a 5.000 anos antes de Cristo, formada de elementos vivos, força cósmica e viva da natureza divinizada pelos primitivos que deram o nome de Orixás.
Diferença e discriminações raciais na mulher negra, na mulher mãe e sacerdotisa, no trabalho vivemos dia-a-dia, somos às vezes rejeitadas, humilhadas e desvalorizadas, até porque uma boa parte são analfabetas e desconhecem os seus direitos, servindo de cobaias e escravizadas pelos seus senhores ou patrões, nas favelas, nas fazendas,canaviais, com salários miseráveis passando as vezes fome e sem ter moradia digna. A intolerância para o nosso povo ainda existe. Predomina principalmente para a sacerdotisa, são chamadas de negra macumbeira, endemoniada, mau caráter.
A casa que moramos é a casa do diabo, quando trabalhamos e a patroa descobre que somos da religião somos dispensadas, alegando não querer macumbeira em seu estabelecimento. Só que muita gente discrimina a religião e vai a nossa casa querendo nos fazer um verdadeiro demônio, pedindo coisas absurdas e incapaz de se praticar, porque religião nos proíbe de fazer o mal ao próximo, porque temos um ser superior para julgar as sementes boas e ruins que plantamos e o que vamos colher. Só fazemos o bem ao próximo. Curamos, ajudamos a conseguir trabalho, fazemos união, fazemos voltar paz nos lares, muitas vezes tiramos alguém do abismo lhe restituindo a paz, mas ninguém vai a rádio, jornal, televisão dar o seu testemunho da graça recebida, porque se envergonham de dizer que foram a casa da religião afro. Gente vamos acabar com esse cinismo, esse idealismo hipócrita com nossa raça, nossa religião. Quantos são da religião e negam, dizem ser católicos.
A lei da natureza diz: viemos do pó e ao pó voltaremos, sem diferença de cor raça ou religião e isso é religião dos orixás.
A sacerdotisa da religião é a mãe que cumpre seus deveres como: Amar a Deus e a natureza sobre todas as coisas. Dar vida e não tirá-la. Conduzir as pessoas ao caminho do bem. Fazer caridade não olhando a quem. Pedir a Deus e orixás saúde para os doentes. O pão de cada dia para quem tem fome. Água para quem tem sede. Orar, implorar e pedir Deus e Orixá dias melhores e paz para o mundo. Paz e união entre as famílias.
Ser Yalorixá é ser mãe, amiga,conselheira,compreensiva,carinhosa,amorosa dividir os problemas de seus filhos e solucioná-los,confortando e amparando no que for possível e muito mais.

Nifé Ki Olorumfe - Seja feita a vontade de Deus.
Olurum Abukum - Deus lhe abençoe
Olorum Da Alagasi - Que Deus dê felicidade a todos.

 

 

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