A guerra interna na Polícia Civil de Alagoas está cada vez mais visível para a população alagoana. Durante entrevista ao radialista França Moura, no Programa Cidadania da Rádio Jornal, o delegado da PC, Jobson Cabral não mediu palavras e disparou diversas críticas a Cúpula da Segurança Pública de Alagoas.
No início da entrevista, Cabral lembrou que teve dez dias de salários cortados por não participar de um curso de direito humanos. “Tive um corte de R$ 4.700,00 no salário por não participar desse curso. Meu trabalho é no combate a criminalidade, e como não tenho esse perfil, não fiz o curso. Eu estou numa democracia e isso não existe. Estarei de férias agora em dezembro e aproveitei o mês de novembro para concluir vários inquéritos”, explicou.
O delegado também disparou várias críticas à gestão de Marcílio Barenco, como diretor-geral da Polícia Civil do Estado. “Barenco não é agregador. É arrogante, perseguidor e criou uma redoma de delegados novos. Os mais antigos foram transferidos para outras cidades. Ele preteriu os mais antigos, afirmando que eram delegados viciados”.
As críticas do delegado também foram disparadas contra Antônio Carlos Lessa, atual presidente da Associação de Delegados de Polícia de Alagoas (Adepol). Segundo Jobson, Lessa não tem posição diante das falhas da segurança pública. "Ele parece a Diana do Pastoril, não sabe de que lado fica, está sempre em cima do muro. A única preocupação dele é quanto a realização de shows e eventos na Adepol".
Vários delegados já dispararam na imprensa a insatisfação quanto à gestão de Barenco. Segundo Jobson Cabral, 95% dos delegados compartilham desta opinião. “Para se ter uma idéia, Paulo Rubim e Barenco nunca se reuniram com delegados para saber as deficiências, os problemas enfrentados pela classe. Como eles querem ter credibilidade se agem dessa forma?”, indagou.
Jobson Cabral também criticou declarações dadas pelo Secretário de Defesa Social, Paulo Rubim, que foi entrevistado na noite desta terça-feira (01) no ‘Conversa de Botequim’. “As declarações de Rubim foram infelizes quando ele afirma que a criminalidade no Estado está diminuindo. Os números provam o contrário. Até agora foram registrados 2000 homicídios, o que significa 6 crimes por dia. Foram mais de 7000 roubos e 8000 furtos. Se ele acha que isso é diminuir então, ele com certeza mora em outra cidade”.
Outra informação passada pelo delegado foi no que diz respeito aos recursos destinados ao Estado para a área da segurança pública. “O Governo Federal enviou a Alagoas R$ 440 milhões, um aumento de 24,58% em relação ao ano passado. Isso sem falar nos R$ 52 milhões do Pronasci [Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania], dinheiro esse que não foi aplicado pela imperfeição dos projetos”, disse Cabral.
As deficiências na segurança pública vão desde os problemas de superlotação a crimes não esclarecidos. O delegado lembrou ainda do baixo efetivo de policiais nas delegacias o que dificulta o trabalho eficaz da polícia. “Pra se ter uma noção, existem apenas quatro policiais trabalhando em delegacias. Quando a gente precisa realizar uma operação, saímos com apenas três e um fica de plantão na unidade. Isso é um absurdo”, explicou o delegado que lembrou ainda dos problemas na questão da alimentação. “As delegacias estavam recebendo comidas estragadas, fiz a denúncia e foi comprovada. Ainda declararam que a responsabilidade era minha. Eu sou delegado e não nutricionista”.
Para o delegado, o que falta para a Cúpula é planejamento nas suas ações. “Em Alagoas existe três Serviços de Inteligência: um na PC, outro na PM e outro na Secretaria de Defesa Social. Temos que unificar para trabalhar na elucidação dos fatos. Isso não chega a lugar nenhum”.
Jobson comentou a falta de policiamento nas ruas da capital. “Quando a gente chega no Gabinete do Paulo Rubim, são 50 policiais militares. A gente tem até que bater continência. A população cobra e a realidade é essa e tenho como provar. O que tem que ser feito é uma reorganização”.
“Não vim aqui para acusar nem fazer juízo de valor. Minhas críticas são construtivas. Todo delegado que está na linha de frente é passível de levar ou dar uma pedrada, mas quem está no gabinete engravatado não tem esse problema. Tenho livre arbítrio de falar e sou responsável pelos meus atos. Sempre recebi elogios no meu trabalho e vou continuar fazendo isso”, diz o delegado.
No final da entrevista, Jobson Cabral cobrou do governo uma mudança urgente na Cúpula da Segurança. “Esse governo acertou em muitas áreas (educação, saúde, funcionalismo), mas é preciso ter novas pessoas no comando da segurança. Barenco é muito verde, precisamos de alguém mais experiente. O que precisamos é de uma cúpula onde nos sintamos a vontade para trabalhar, para sair a campo”, finalizou.