O nosso racismo silencioso promove um dálogo perfeito com o padrão eurocêntrico brasileiro.

13/11/2009 05:31 - Raízes da África
Por Arísia Barros


O racismo é atemporal está sempre à frente das normas do humanismo, subestimando a capacidade social de debelá-lo. Como elemento anônimo circula livremente pelas realidades subterrâneas, os subúrbios dos silêncios sociais. É inventiva e carregada de inteligência a linguagem da discriminação racial brasileira que ao assumir as esferas do poder usurpa espaços, hierarquiza e estabelece o fenótipo “aceitável’ ao “miscigenado” povo. Por que nos é tão fácil esquecer que o Brasil é o segundo país mais negro do mundo?
O movimento da historiografia do Brasil, ainda, promove abordagens estereotipadas sobre a África e todo patrimônio coletivo de saberes incorporados ao cotidiano do país. Essas mesmas abordagens invadem os espaços pedagógicos transformando a construção histórica, social e cultural da etnia negra em leis e mais leis que o poder público simplesmente ignora.
A historiografia negra, ainda é uma micro história social e “o etnicismo educacional é a matriz do predomínio e privilégios. Sua face mais horrenda é perpetuar e negar às massas segregadas o acesso à educação, evitando que se preparem para disputar renda, saúde,moradia,trabalho,cidadania. Essa incapacitação estável forma a base da pirâmide social(...)”( Mir,Luís)
Acreditamos que é a soma e não a exclusão que torna os povos distintos. Desconstruir a história que se conta sobre a construção identitária da etnia negra é tarefa desafiadora.
Exige da escola e da sociedade um exercício diário a fim de revisar perspectivas, interpretações estereotipadas e racistas.
Precisamos de escolas especializadas em formar humanos com inúmeras aptidões desde a matemática a música. Desde o conhecimento da física a apreensão da química do respeito humano. Escolas que sejam instrumental ativo para iniciativas de construção de diálogos de consensos humanos, que promovam as oportunidades de debate, troca e aprendizado mútuo; aumentando o auto-conhecimento, o desenvolvimento pessoal e interpessoal da comunidade escolar. Escolas que alfabetizem tendo como foco a construção de humanos integrais, pois “um cidadão educado, ator político, sujeito do seu próprio destino exige (e luta) independência econômica pessoal e coletiva; se torna um trabalhador moderno, integrado numa economia industrial (...) (Mir; Luís)
Precisamos revisar a ambigüidade dos discursos que evidenciam o nosso racismo e a plena aceitação da não-ascensão do elemento negro. Quantas e quantas vezes não repetimos frases tipo: “Em hipótese alguma passo da minha hora na repartição, afinal não sou nenhum escravo”. De imediato nos remetemos a todos os conceitos estabelecidos no imaginário social sobre as “aptidões” do colonizador e do colonizado.
Permitimo-nos ter laços parentais com os colonizadores, mas em hipótese alguma estabelecemos fios condutores que reflitam a nossa condição de filhos da mãe África. Nossos discursos sociais são eivados de segmentação: estabelecemos a inserção social com um viés extremamente hierarquizado. E um dos maiores problemas é que achamos singular e normal que os não negros assumam os espaços de poder e o “normal” é o negro da subalternidade, na periferia da história.
A associação que fazemos da palavra escravo é com o elemento negro, portanto o nosso racismo silencioso promove um diálogo perfeito com o padrão eurocêntrico brasileiro. Homem, branco, heterossexual e católico. “E anuncia-se mais uma vez o duelo com o analfabetismo na nossa história. Educados basicamente, esses segregados devem ter acesso a tantos outros tipos de investimentos para ingressar no mercado de trabalho mais sofisticado. O custo de socializar, educar, abastecer com serviços, cultura e lazer, transferir renda e empregos para milhões de emancipados quebra a hegemonia de grupo e o monopólio da renda e do Estado.(...)
No Brasil, os proprietários de escravos queriam ser ressarcidos pela perda do seu capital (...) ( Mir, Luís)
Situações como essas tornam imprescindível o debate sobre as dimensões do racismo brasileiro e um redimensionamento das políticas públicas de reconhecimento, valorização e respeito ao povo negro, daí a extrema importância de se tratar do tema no universo das escolas brasileira, desde a educação infantil.


 

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