Políticas universalistas são insuficientes para abolir o racismo

22/10/2009 05:50 - Raízes da África
Por Redação


O discurso político é econômico em sua revolução cotidiana, ainda investe no embate de idéias contrárias feito de argumentos e réplicas, esquivando-se de soluções concretas para levar a toda pessoa o artigo quinto da Constituição brasileira.
O combate à desigualdade étnica envolve estratégias de conhecimento, difusão e mobilização. Exige a parceria dos movimentos sociais, do poder público, iniciativa privada e sociedade em geral.
Exige a criação de iniciativas que se proponham a fazer do discurso um instrumento dinâmico para a construção de idéias e interesses comuns, mecanismos de prevenção do racismo institucional, ações concretas, como meios de acesso aos serviços de saúde, educação, emprego e renda para a população menos assistida, dentre ela, a população negra.
O racismo foge da nossa percepção cotidiana e se abriga nos quilombos urbanos: as favelas. Favelas que traduzem na população negra o seu maior contingente. Urge inserir nas propostas políticas da corrida eleitoral para 2010 questões específicas que atendam a esse contingente, que 121 anos pós-abolição, ainda enfrenta problemas oriundos do imaginário-sócio-escravagista-político.
O combate à intolerância racial envolve estratégias e programas de governo que a partir da releitura do molde econômico da escravatura, crie estratégias possíveis de combate ao racismo institucional, nas áreas de saúde, educação, emprego e renda.
Propomos algumas idéias:
1-Criação de uma campanha permanente de alerta contra Anemia Falciforme (assim como o da Dengue).
A anemia pode se detectada no Teste do Pezinho, quando é coletado sangue do calcanhar do recém-nascido. O ideal é que seja realizado entre o terceiro e sétimo dia de vida do bebê e 48 horas a primeira mamada;
2- Implantação da triagem universal (prevenção e controle da hipertensão) nos diversos.
serviços de saúde, para promover a medição indireta da pressão arterial em todas as crianças a partir de 3 anos de idade, durante as consultas médicas, em pelo menos uma vez ao ano.
3- Implantação do quesito cor/raça/etnia pelo SUS tendo como objetivo criar espaços de investigação sobre as vulnerabilidades específicas de cada segmento populacional.
4- Inclusão de práticas de promoção e educação em saúde da população negra nas rotinas assistenciais e facilitação do acesso em todos os níveis do sistema de saúde/educação.
5- Inserção nos currículos das escolas alagoanas do estudo da história afro-brasileira, afro alagoana.. (Lei Federal nº. 10.639/03 e Lei estadual nº. 6.814/07).
A construção da dignidade social nasce da construção de uma cultura do respeito ao outro/outra e suas diversidades.
Segundo Oliveira, Fátima: “O racismo, ao contrário do que muita gente alardeia, não é o mesmo que miséria ou pobreza. Discriminação, preconceito e opressão de classe são DIFERENTES de discriminação, preconceito e opressão de gênero ou de raça/etnia. Cada uma possui dinâmicas de surgimento e de operacionalidade que lhes são peculiares, logo nenhuma se funde, ou se confunde, com a outra, embora possam ser reforçadas quando se abatem sobre a mesma pessoa. Cada uma exige políticas específicas adequadas. Urge que o governo entenda, por sensibilidade ou por dever de ofício, que políticas universalistas são insuficientes para abolir o racismo. E seja determinado e lance as bases de uma revolução cultural que ressoe nos usos e costumes, nos mitos e nos ritos que sustentam o racismo. É improvável um país chegar a um futuro grandioso quando metade do povo está acuado pelo racismo. Superar o racismo é uma questão estratégica para o Brasil, logo não pode ser apenas um assunto dos negros, o que indica que órgãos de governo e políticas públicas para combate ao racismo não podem ser minimalistas e nem reedições de guetos”.
Sabemos que o racismo não será superado por decreto ou com a boa vontade de alguns. Sabemos dos entraves racistas estruturais e conjunturais, entretanto é preciso avançar rumo à democratização dos direitos do ser humano.


 

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