Fontes ligadas ao governo e ao núcleo político do MDB relatam que, nos bastidores, tem sido ventilada a hipótese de Paulo Dantas (MDB) tentar novamente o governo em 2026. A ideia circula entre aliados próximos de Marcelo Victor (MDB) como uma espécie de seguro político, um malabarismo jurídico que poderia manter o grupo no controle da máquina estadual caso o plano principal, o retorno de Renan Filho (MDB), não se concretize.
O argumento sustentado por defensores dessa possibilidade é o de que Dantas foi eleito indiretamente em 2022 para concluir o mandato de Renan e só depois venceu a eleição direta para o período de 2023 a 2026. Nessa interpretação, ele estaria apenas no primeiro mandato, o que abriria caminho para nova candidatura. A tese, contudo, contraria decisões reiteradas do TSE e do STF, que já reconheceram que qualquer forma de eleição, seja direta, indireta, tampão ou suplementar, conta para fins de reeleição. Na prática, apostar nessa saída significaria enfrentar uma batalha judicial arriscada, com grandes chances de indeferimento.
O cálculo político, entretanto, vai além da letra da lei. Em 2022, a engrenagem já havia se mostrado eficiente. Renan Filho deixou o governo para disputar o Senado. Luciano Barbosa (MDB), vice-governador eleito com ele, havia renunciado em 2020 para assumir a Prefeitura de Arapiraca. A dupla vacância abriu espaço para a aplicação de uma lei estadual sancionada pelo próprio Renan, que autorizava a eleição indireta pela Assembleia Legislativa. Com a Casa sob controle absoluto de Marcelo Victor, o caminho ficou livre para que Paulo Dantas assumisse o governo de forma interina e, em seguida, usasse a estrutura do Estado para vencer a eleição direta ainda naquele ano.
Agora, há sinais de que a engrenagem tenta se prolongar. Nos corredores do poder, repete-se a versão de que não existe alternativa ao retorno de Renan Filho em 2026. O ex-governador, porém, parece cada vez mais confortável em Brasília, no cargo de ministro, e não demonstra disposição clara de reassumir o comando do Estado. Em público evita se comprometer, mas a interlocutores próximos teria sinalizado que não pretende voltar. Sua trajetória política reforça essa leitura, já que Renan sempre trabalhou para escapar de disputas com adversários competitivos, preferindo articulações que o poupassem de um embate direto com o prefeito JHC (PL).
É nesse contexto que a brecha de Dantas surge como plano de contingência. Caso o chamado “acordão” para barrar a candidatura de JHC não avance, aliados avaliam a possibilidade de insistir na tese de uma nova disputa de Dantas, mesmo sob risco de judicialização. Seria, na visão de alguns setores do grupo, uma forma de conter o avanço do PL e evitar que JHC concorra em condições plenas em 2026.
A hipótese, no entanto, também levanta outro ponto de atenção. Se Dantas resolvesse disputar um cargo diferente do governo, abriria espaço para que Ronaldo Lessa (PDT) assumisse o comando do Estado e, em seguida, concorresse à reeleição como candidato natural à sucessão. Essa possibilidade é mencionada como um dos fatores que ajudam a explicar por que Dantas dificilmente deixaria o Executivo para outra disputa. Manter-se no cargo, avaliam fontes próximas, seria a única forma de evitar que Lessa herdasse a máquina administrativa e construísse condições próprias para 2026.
O quadro revela a dependência de um núcleo político que parece incapaz de se renovar. Em vez de discutir novos projetos e lideranças para o Estado, o grupo aposta em brechas jurídicas, acordos e manobras de bastidores. A política alagoana segue reduzida a expediente de perpetuação no poder, mantendo a sociedade refém de arranjos que se repetem há décadas.