Brasília – O Congresso Nacional mostrou ontem (17) que não tem mesmo mínimo pudor. Aprovou, em plena quarta-feira, o Projeto de Lei 2162/2023, que concede anistia para crimes políticos cometidos a partir de 2022 — sim, até os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, como se estivessem em um parque temático da barbárie.

Com a pressa de quem quer enterrar o assunto debaixo do tapete, a proposta segue direto para sanção presidencial. O discurso oficial é de “pacificação nacional”. Na prática, trata-se da festa da impunidade: um bilhete premiado para quem tentou atropelar a democracia a gritos de “patriotismo”.

 

Como votou a bancada de Alagoas

Entre os nove deputados federais do Estado, o placar expôs, sem disfarces, quem decidiu aplaudir a anistia e quem, pelo menos, ensaiou indignação:

✅ Alfredo Gaspar (União Brasil) – Sim
✅ Marx Beltrão (Progressistas) – Sim
✅ Arthur Lira (Progressistas) – Sim
✅ Fábio Costa (Progressistas) – Sim
❌ Daniel Barbosa (Progressistas) – Não
❌ Isnaldo Bulhões Jr. (MDB) – Não
❌ Rafael Brito (MDB) – Não
❌ Paulão (PT) – Não
❌ Luciano Amaral (PV) – Não votou

 

O puxão de orelha de Renan

Na ala do MDB, o que se viu foi um espetáculo de vaivém. Rafael Brito e Isnaldo Bulhões Jr., que antes haviam abraçado a indecorosa “PEC da Blindagem” — uma espécie de seguro VIP contra a Justiça para parlamentares — desta vez mudaram de lado.

Não foi iluminação súbita ou súbito amor à democracia. Foi medo. Ambos haviam levado uma bronca pública do senador Renan Calheiros, o dono da bola no MDB de Alagoas. E, como bons alunos repreendidos, trataram de alinhar-se ao chefe, votando “não” para tentar limpar a ficha e salvar a própria pele.

 

O recado da anistia

Agora o texto repousa no colo do presidente da República, mas a mensagem já foi dada: no Brasil, até um atentado contra a democracia pode virar objeto de perdão oficial, com direito a discurso bonito no plenário e pose de estadista nas redes sociais.

Críticos chamam de risco. Na prática, é o seguinte: se golpistas foram perdoados, amanhã qualquer aventureiro pode brincar de rasgar a Constituição — afinal, sempre haverá um Congresso disposto a transformar crimes em “gestos políticos” e vandalismo em “ato patriótico”.