Um casal relata ter sido vítima de racismo e constrangimento após ser acusado injustamente de furto e coagido por quatro homens na noite da última segunda-feira (1º). O episódio ocorreu na Bombar Galeteria, no bairro do Prado, em Maceió.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, uma das vítimas, Júlia Neves, conta que havia ido ao local para comemorar o aniversário de uma amiga. Após o término da festa, enquanto aguardavam o motorista de aplicativo, perceberam a aproximação de quatro homens.

“Ficou mais evidente quando um deles passou, encarou o meu namorado e bateu na nossa mesa. Até então, achamos estranho, mas não imaginávamos que fosse algo direcionado a nós. [...] Pensei em sugerir que fôssemos para a frente esperar o nosso carro, mas antes que eu pudesse falar, os mesmos quatro homens cercaram a nossa mesa”, relatou.

Segundo o casal, um dos homens exigiu, de forma hostil, que Júlia abrisse a bolsa, enquanto outro a acusava de furto e dizia querer conferir se havia algo dentro, alegando ser policial. Ela resistiu e começou a gravar a situação. Ao perceber a gravação, um dos homens se identificou como segurança do bar e mudou a postura da abordagem.

 

 

Júlia conta que, em determinado momento, pediu ajuda a outras pessoas presentes no bar: “Estou aqui, com quatro pessoas me coagindo. Ninguém vai fazer nada? Quatro homens me obrigando a abrir a bolsa do nada.” Foi então que uma mulher se aproximou e insistiu que ela deveria abrir a bolsa.

Após longos minutos de discussão e constrangimento, a jovem abriu a bolsa, retirou os pertences e mostrou que não havia levado nada dos homens que a acusavam. “Eu já tinha chamado por ajuda e ninguém fez nada. Não me restou outra opção senão abrir minha bolsa. Naquele momento, estava chorando e completamente constrangida. Tirei tudo de dentro e disse: ‘Não tem nada, acabei de voltar da faculdade e coloquei o celular na mesa.”

A jovem relata que, depois do episódio, os envolvidos se retiraram. Em seguida, o gerente do bar procurou o casal para verificar se o segurança havia feito alguma pergunta sobre o suposto furto e para mostrar as imagens das câmeras. O casal afirma que já tomou medidas legais e conta com o apoio jurídico do Instituto do Negro de Alagoas (INEG/AL).

“A gente sabe muito bem por que, mesmo sem provas, nos acusaram. Não se trata apenas de calúnia, isso tem nome: é racismo. Por isso estamos tomando as medidas legais necessárias”, concluiu.

O bar enviou nota lamentando o episódio. Confira a nota na íntegra. 

Bombar vem a público se manifestar sobre o episódio lamentável ocorrido recentemente no estabelecimento. Inicialmente, queremos expressar nosso mais profundo pedido de desculpas às pessoas diretamente envolvidas e a todos os nossos clientes, amigos e frequentadores. Sentimos muito por qualquer dor ou desconforto causado.

Informamos que o colaborador apontado no vídeo foi afastado imediatamente de suas funções, e estamos apurando com rigor todos os detalhes do ocorrido para que as medidas cabíveis sejam tomadas com a máxima responsabilidade.

Ressaltamos que, em mais de 11 anos de atuação, esse foi um fato totalmente isolado em nossa história e queremos deixar claro que não compactuamos, jamais compactuaremos, nem toleraremos qualquer tipo de discriminação ou atitude racista em nosso ambiente.

Nosso compromisso sempre foi e continuará sendo com o respeito, a inclusão e a promoção de um espaço seguro e acolhedor para todos que admiram e fazem parte da cena cultural local. Vamos investir em ações de sensibilização e capacitação de nossa equipe, para que episódios como este nunca mais se repitam.

Agradecemos a todos que confiam em nosso trabalho e permanecem ao nosso lado. Seguimos abertos ao diálogo e comprometidos com a construção de um ambiente verdadeiramente diverso e respeitoso.

O Bombar é um espaço que nasceu e se mantém na periferia da zona sul de nossa cidade com o propósito de ser um lugar de encontro, diversidade e inclusão. Nossa trajetória sempre foi construída em diálogo com diferentes grupos sociais, culturais e artísticos, sem jamais adotar práticas de repressão ou discriminação contra qualquer pessoa, seja por raça, gênero, orientação sexual ou pertencimento a minorias.

Reiteramos nosso compromisso de acolher e apoiar o casal envolvido neste episódio.

Seguiremos firmes em nosso propósito: ser um espaço de convivência, respeito e celebração da diversidade, sempre aberto para todos.

 

*Estagiária sob supervisão da editoria