O Sebrae Alagoas promoveu a inscrição de 78 artesãos da comunidade indígena Kariri Xocó, de Porto Real do Colégio, para a obtenção da Carteira Nacional do Artesão. A ação, executada pela Agência do Sebrae em Penedo, em parceria com a analista do Sebrae, Marina Gatto, e viabilizada pelo projeto Alagoas Feito à Mão, marca o início de um trabalho estruturado de apoio ao fortalecimento da cultura e da produção artesanal da população.
Para os indígenas da etnia, o documento representa mais do que acesso a benefícios, é o reconhecimento da identidade e da riqueza cultural que eles representam. Entre os principais trabalhos estão as cerâmicas tradicionais produzidas pelas louceiras Kariri Xocó, como potes, panelas e outros utensílios moldados em argila, além de peças em madeira, como xanducas, arcos, flechas, zarabatanas e machadinhas. Também se destacam colares de miçangas confeccionados com sementes de meru e outros materiais, além de cocares, brincos, tiaras e tererês.
“Nós somos a arte viva, a cultura viva. Tudo o que fazemos e vivemos é arte. Nós vendemos a nossa arte quando saímos para fazer apresentações de cantos e danças em outras cidades e também quando recebemos pessoas em nossa comunidade. Alguns também conseguem vender via internet, mas temos muita dificuldade e sentimos na pele a desconfiança e o preconceito. Com a Carteira do Artesão, a gente espera ter mais segurança quando sairmos para apresentações e para vender nossos produtos, além de facilitar a nossa participação em feiras. Nosso artesanato leva a história e a energia do nosso povo forte e resistente. Ter essa carteira é conquistar espaço e reconhecimento”, afirma Iriane Pires, indígena Kariri Xocó e Karapotó Plaki-Ô.

Indígenas Kariri Xocó realizam cadastro da Carteira Nacional do Artesão, passo importante para garantir reconhecimento e ampliar oportunidades.
Do diálogo à ação: como nasceu a parceria entre indígenas e Sebrae
A demanda da comunidade chegou ao Sebrae por meio de uma conversa entre Iriane e a analista do Sebrae Penedo, Sidartha Reis. No encontro, que aconteceu durante uma visita da analista a Porto Real do Colégio, a indígena relatou o potencial do artesanato e as dificuldades para comercializá-lo. A situação sensibilizou também a coordenadora do artesanato do Sebrae Alagoas, Marina Gatto, que organizou uma visita técnica à comunidade. Os indígenas mostraram as técnicas, os produtos e o espaço de vivências culturais e, ali, foi articulada a parceria para a emissão das carteiras.
Com o documento em mãos, os artesãos da comunidade passam a ter acesso a cursos de capacitação, consultorias especializadas e condições para participar de editais voltados para o desenvolvimento da atividade econômica e cultural. A carteira também é requisito para inserção em políticas públicas de incentivo, e também facilita a participação em feiras e eventos culturais em todo o país. Garante ainda isenção de ICMS na comercialização das peças e acesso a linhas de crédito com condições específicas.
Conforme Sidartha Reis, a partir da inclusão dos indígenas no Cadastro Nacional dos Artesãos, será possível construir um plano de desenvolvimento sustentável, respeitando as especificidades e a identidade cultural. “Vamos voltar à comunidade quando as carteiras foram emitidas para entregar o documento e fazer um levantamento detalhado das ações que podemos promover. Vamos considerar as dificuldades e potencialidades do artesanato produzido para definir estratégias, como transformação digital e valorização do design. Também vamos buscar editais que permitam realizar projetos voltados ao desenvolvimento do artesanato e da cultura local. Tudo isso só é possível porque, após a emissão da carteira, os artesãos passam a ter acesso formal a esses programas”, destacou.