Um dia desses, tentei lembrar o nome de um objeto. O nome me escapava. Era… colher. Fiquei vinte segundos olhando para o talher, esperando que o Wi-Fi do meu cérebro conectasse. E pensei: será que estou com o cérebro podre? Talvez sim , e talvez você também esteja .
O termo “Cérebro podre”, ou brain rot se refere a deterioração mental que surge do uso exagerado de internet — especialmente redes sociais, memes infinitos, vídeos de quinze segundos e discussões apaixonadas sobre tudo e nada. O termo foi usado pela primeira vez em 1854 por Henry Thoreau, no livro "Walden". O autor criticava a falta de valorização de ideias complexas e comparava o "brain rot" ao apodrecimento das batatas na Inglaterra.
Se você sente cansaço ao ler um texto mais longo, esquece do que estava falando no meio de uma frase(excesso de pensamentos) ou tenta ouvir alguém, mas seu cérebro já está pensando no próximo posto do Instagram. Esses são alguns dos sintomas clássicos do cérebro podre.
O problema é que estamos formando mentes frágeis, que devoram toneladas de conteúdo superficial, mas não conseguem mergulhar fundo em nada. Nada as prende, um turbilhão de ausências , sem inteligência emocional, sem bagagem afetiva, sem paciência para lidar com o complexo — seja intelectualmente ou emocionalmente.
E se isso faz estrago em nós, adultos, imagine nas crianças. Estudos da Harvard Medical School mostram que o uso excessivo de telas pode mexer com regiões do cérebro ligadas à atenção, autocontrole e memória (Christakis et al., JAMA Pediatrics, 2018). Além de maior impulsividade, já se observam dificuldades claras na aprendizagem, no processamento de informações e na regulação emocional. O risco? Criarmos crianças que não têm paciência para vínculos reais, que vivem num mundo superficial e que, nos casos mais severos, apresentam déficit de atenção e até quedas no desempenho intelectual.
Então, como cultivar vínculos profundos se estamos intoxicados de conexões superficiais? Como sustentar conversas difíceis — ou sentimentos complexos — se tudo o que queremos é a próxima dose de prazer digital?
Porque o mais preocupante não é só ter memória ou raciocínio de peixe dourado. É o efeito devastador que esse fenômeno está causando nas nossas relações humanas. Na vida além do digital, no real.
A psicóloga clínica alagoana Samira Lima (CRP 15/5768) diz que cérebro podre não é só perder a atenção — é perder a si mesmo e aos outros. Segundo ela, as relações modernas, tão digitais, estão lotadas de estímulos rasos que despejam dopamina, dão prazer na hora, mas deixam o cérebro exausto. No fim, ficamos famintos por relações verdadeiras — que, ironicamente, andam cada vez mais raras.
Estamos nos tornando menos pacientes, menos empáticos, menos curiosos. Nosso vocabulário está encolhendo a ponto de caber num “kkk”, em emojis e figurinhas de WhatsApp. Se nosso cérebro está apodrecendo, não está indo junto nossa capacidade de amar direito, de perdoar, de ficar num relacionamento mesmo quando ele entra na fase “não tão divertida assim”?
Não tenho respostas definitivas. Mas sei que, se não desintoxicarmos o cérebro, vamos acabar sozinhos, cercados de vídeos engraçados e com zero vínculos afetivos reais profundos e duradouros .
Antes de partir para o próximo vídeo curto, dancinha sexy ou flerte digital, deixo algumas perguntas para você pensar -offline(sem internet )se possível:
1. Você ainda consegue ficar entediado — ou corre sempre para o celular?
2. Quanto do seu tempo é dedicado a conversas profundas com quem você gosta?
3. Quando alguém chora, você acolhe, recomenda um vídeo motivacional de 15 segundos ou simplesmente ignora?
4. Você prefere conhecer alguém de verdade, stalkear o perfil dela ou só ter encontros casuais? Porque dá trabalho construir um relacionamento saudável!
5. O conteúdo que você consome — digital ou físico — está alimentando seu cérebro ou está virando fast food mental?
E então, seu cérebro está saudável ou já adoecendo?
Se sua resposta foi sim, o caminho de volta é no remédio . Às vezes, ouse desligar os dados móveis/wi-fi e encontrar o tédio ou olhar profundamente para as pessoas que estão a sua frente . Ouse desinstalar o app de paquera( conhecer pessoas reais, e não num cadápio) , ouse abrir mão de flerts digitais rasos, leia livros, assista um bom filme e documentários, consuma conteúdos profundos, se espiritualizar, se conecte à pessoas reais (imperfeitas e falhas) , tente evoluir ao lado delas. Ouse criar vínculos profundos, dançar ( ninguém mais dança coladinho), dance sozinho também e escute música que toca sua alma. Faça exercício fisico, descubra algo que você ama ( costurar, bordar, pintar, surfar.. ). Ouse viver uma vida real, e que o digital seja apenas um detalhe da sua vida, não mais ' A sua vida' ! Ouse !