O professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Tiago Zurck, denunciou a Polícia Federal o crime de injúria racial, tipificado como racismo, que sofreu por parte de alunos da área de saúde da instituição, no último dia 24 de junho. Ele registrou o Boletim de Ocorrência nesta quarta-feira (26).
De acordo com Zurck, os alunos expuseram seu currículo e foto em um grupo de WhatsApp. Nas mensagens, um dos discentes afirma que Tiago teria “baita cara de vagabundo” e outro afirma que caso o professor fosse exonerado, ele se tornaria um mendigo.


Conforme relato de Zurck, os ataques se deram após um conflito dele com um grupo de estudantes que querem o fim da greve na universidade. “Na tentativa de diálogo, me coloquei à disposição para fazermos um encontro online para conversarmos sobre as divergentes posições.”.
O professor ainda afirma que foi compartilhado um link institucional do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), o qual mostra o perfil profissional dele, numa tentativa de intimidação.
Além disso, o docente ainda afirma que o regimento da UFAL prevê represálias para alunos que injuriam os profissionais da instituição.
“Para garantir que o ideal de uma sociedade democrática e antirracista seja efetivado uma universidade pública que forma profissionais de altíssima qualidade não pode tolerar que profissionais da saúde com valores e práticas racistas sejam entregues ao mercado de trabalho sob a pena de tais práticas serem reproduzidas com outros cidadãos e pacientes”, disse Zurck.
Solidariedade e apoio
Diversos coletivos, Centros Acadêmicos, alunos e colaboradores da UFAL prestaram solidariedade ao professor após a denúncia em suas redes.
O Centro de Educação (CEDU), bloco em que Zurck leciona, soltou uma nota de repúdio onde afirma não tolerar atos de ofensas, agressões e ataques racistas dentro da universidade. Além de se solidarizaram pelo acontecido e afirma que a direção do CEDU presta apoio a luta antirracista.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (Adufal) também foi a público por meio de nota, durante esta quarta-feira (26), afirmar que repudia atos racistas que docentes estão sofrendo na internet devido à greve.
A associação ainda destaca que práticas do tipo, além dos crimes de injúria e racismo, são consideradas cyberbullying e os praticantes estão passíveis de pena.
Confira a nota na íntegra:
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (Adufal) vem a público manifestar seu mais veemente repúdio aos ataques e ofensas, inclusive racistas, que professores e professoras da Ufal têm sofrido, especialmente nas redes sociais, em decorrência da greve.
Este cenário tem sido parte da realidade da categoria desde o início da greve docente na Ufal, que começou em 29 de abril deste ano. Em publicações da Adufal nas redes sociais, por exemplo, é possível conferir diversos comentários ofensivos direcionados a todos os/as professores e professoras.
A partir deste contexto, é importante destacar que o movimento grevista é um direito legítimo de todo trabalhador, assegurado pela Constituição Federal, e representa uma ferramenta democrática de reivindicação por melhores condições de trabalho e valorização.
Para a Adufal, é inaceitável que atitudes preconceituosas, discriminatórias e que ferem os princípios fundamentais de respeito e igualdade sejam normalizadas. Racismo é crime imprescritível e inafiançável, com pena de até cinco anos de reclusão, e sua prática demonstra uma profunda ignorância e desrespeito aos valores humanos.
Além do racismo, usar a internet, celular e outros meios de comunicação para ofender ou prejudicar o outro também é crime. A prática é conhecida como cyberbullying e pode acarretar processos tanto no campo cível, com dano moral, quanto na área criminal, como injúria, calúnia e difamação, consideradas crimes contra a honra.
Neste momento, a Adufal reitera o seu compromisso com a promoção da igualdade racial, o combate ao racismo, e todo tipo de ataque e ofensa que venham a ferir a dignidade humana, colocando à disposição dos/as docentes a assessoria jurídica da entidade para fins de orientação e acompanhamento desses casos.
*Estagiária sob supervisão da editoria