Bairro de casas boas e grandes. Os lotes na época foram piqueteados com generosidade. Ar puro, ruas tranquilas e asfaltada até certo ponto da orla, contemplada por barracas de praia redondas durante quase toda sua extensão. Na rua duplicada e dividida por coqueiros compridos, a terra é de chão e o cheiro é de infância. Sentado no banco do carro, já dá para contemplar o azul do mar, brilhando inerte como uma chapa de zinco linear. A maré marcava 0.4 as 10:30 da manhã.
Nos últimos dia do ano, recomenda-se banho de mar para curar as mazelas, tirar o mofo, dourar a pele e cicatrizar a alma do perdão não dado. Uma doutora me disse um dia desses e eu decorei: o magnésio, presente na água salgada, contribui para aliviar a tensão muscular e reduzir o estresse ou até mesmo a ansiedade. Com os pés na areia branca e quente, as pedras expostas no azul infinito nos habilita a um mergulho seguro e redentor. Águas mornas e diáfanas, como nos livro de Gabriel, o nobel de literatura.
Só duas horas depois, após múltiplos sorrisos, mergulhos, braçadas e raios de sol no rosto, nas costas e nos ombros, retornamos à mesa de sempre, debaixo de um pé de amendoira, colado ao parquinho das crianças. Nos shopings e praias, sobretudo nesta época do ano, elas costumam desaparecer de um segundo para o outro. Basta repousar os olhos em um desses aplicativos da vida alheia para o desastre acontecer. Nao é só pela amendoeira, mas tambem pela sua prudente geolocalização.
Seguimos em ritmo de despedida entre os assuntos frívolos que costumam surgir em tom de retrospecitiva. Dessa praia ate seu nome me agrada: Guaxuma! Verdade, mas o nome original nao é esse. O certo é Guaxumã, com til no ultimo A. Ao longo dos anos foram falando Guaxuma e o nome ficou. Sério isso? Para mim é uma doce novidade.
Sua etimologia (origem da palavra guaxuma). Do tupi gwa'xima. Tinha que ser do tupi guarani. Aliás, por essas bandas da região norte o último bairro de Maceió também tem a mesma origem: Ipioca. Na botânica, Guaxuma é um nome comum a várias plantas ruderais e campestres, da família das Malváceas; também conhecidas como Sida rhombifolia, Sida carpinifolia, Sida fulva, Sida hastata etc; fornecedoras de fibras úteis para tecer.
O dia se arrastou devagar, como a maré que nos trouxe ondas já perto do pôr do sol. O azul do mar e do céu insistiram caprichosamente em permanecer, nos provando que o melhor presente de fim de ano continua vindo de Deus. Depois de quitada a despesa de nosso investimento pessoal, nos aparece o eficiente Índio, da tribo Tupi – gerente da casa – com duas cervejas de cortesia na bandeja. Guaxuma, Índio, farofa, mini tangas e pele vermelha. O dia provou que o fim de ano pode nos remeter ao início da história. 2024 vem aí!
Crônica – Jeno Oliveira
Maceió, 29 de dezembro de 2023.