Nos últimos anos, o e-commerce tem se tornado uma das principais formas de compra dos alagoanos. Seja pela praticidade ou pelos preços mais baratos, o comércio virtual deve registrar um aumento de R$ 185,7 bilhões neste ano, segundo previsão da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico.

Por outro lado, é necessário redobrar a atenção ao efetuar compras online. Além de golpes, é preciso ficar atento à concessão de dados pessoais, como documentos, cartões de créditos e endereços. 

Ao Cada Minuto, o delegado Sidney Tenório, da Seção de Crimes Cibernéticos, da Diretoria de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), compartilhou que os golpes de estelionato continuam sendo uma grande preocupação. Recentemente, uma delegacia específica para estelionatos foi criada, direcionando a maioria dos casos desse tipo.

Sidney Tenório enfatizou que a “ganância e a busca por vantagens fáceis” são os principais motivos pelos quais as pessoas caem em golpes online. Ele ressaltou exemplos como promessas de lucros exorbitantes em investimentos ou descontos exagerados em boletos falsos, como o caso do IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] no início do ano.

"A maioria é estelionato, tentado ou consumido. Infelizmente algumas pessoas ainda caem nesse golpe”, informa o delegado.

De acordo com Sidney, as principais plataformas usadas pelos golpistas são o WhatsApp e o Instagram. “Promoções, venda de coisas, investimentos, pagamento de boletos falsos, suposta promoção e descontos. Isso acontece muito, ainda chega muito registro”.

Para se proteger contra esses golpes, o delegado aconselha desconfiar de oportunidades muito boas para serem verdadeiras e sempre verificar a autenticidade de mensagens e solicitações de pagamento. Ele destacou a importância de fazer chamadas de vídeo ou ligações para verificar a identidade de alguém antes de realizar transferências bancárias.

"A principal dica é justamente essa: desconfiar. Desconfiança do que chega muito fácil, desconfiança da promoção, da facilidade”, alerta o advogado.

Denúncia e investigação

Além disso, Tenório enfatizou a necessidade de relatar qualquer golpe à delegacia virtual e registrar um boletim de ocorrência. Isso não apenas ajuda as autoridades a investigar, mas também contribui para aumentar a conscientização sobre golpes online.

"Sempre, sempre que cair, procura a delegacia virtual, faz o boletim de ocorrência. Porque é importante que não se fique que essas cifras não sejam reais."

“É importante dizer que na imensa maioria, acho que talvez mais de 95% dos golpes virtuais, não são aplicados aqui de Alagoas. Infelizmente dificulta bastante o trabalho da polícia, porque essas quadrilhas estão em outros estados. Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, são grandes polos em que a gente percebe que há quadrilhas atuais em todo Brasil. Isso dificulta um pouco o nosso trabalho devido à distância geográfica e questão de  logística também”, finaliza. 

Impunidade

A alagoana Juliana Muniz (nome fictício, a fim de preservar a identidade da vítima) foi vítima de um golpe através das redes sociais. Ela conta que, quando estava preparando o convite das madrinhas de casamento, pensou em presenteá-las com um body splash de uma marca internacional. Então, decidiu procurar na internet lojas e encontrou uma que oferecia vantagens: “Comprando no atacado você tem desconto de revendedor”.

Juliana começou a conversar com os supostos vendedores e perguntou quais eram as formas de pagamento, sendo informada de que era no Pix ou cartão, em somente uma vez. 

“Desconfiei pelo modo agressivo como a ‘vendedora’ se dirigiu a mim algumas horas depois: ‘Você não vai fazer o pedido, né? Vou liberar os produtos’”, relatou, acrescentando que recebeu a mensagem às 20h, fora do horário comercial. “Mas meu marido, apressado para finalizarmos esses convites logo, fez o Pix”.

“Escolhi os produtos e estava contente, pois na minha cabeça eu estava economizando. E assim foi feito, me cadastrei, forneci meus dados pessoais para a pseudo ‘nota fiscal’”, disse.

No dia seguinte, a vítima questionou a loja sobre o e-mail com a Nota Fiscal, sobre o despacho dos produtos e código de rastreio, e já não obteve mais resposta: “A pessoa lia minhas mensagens mas não respondia. E isso foi me despertando uma desconfiança e uma raiva! Perguntei mais de 28 vezes, o que estava acontecendo, se houve algum problema, porque não me respondiam e nada. Daí eu já soube: caí num golpe”, lamentou Juliana.

Ela até pediu que algumas amigas se passassem por clientes. Na finalização do suposto pedido, sempre questionavam sobre o pedido de Juliana, mas no mesmo momento eram bloqueadas pela loja.

“Fiz um BO relatando todo o ocorrido, forneci os dados do meliante e tudo mais. Descobrimos que ele já tem BOs registrados em outros estados, pelo mesmo crime: estelionato. E também descobri que não eram do Espírito Santo, e sim de São Paulo, o que dificulta a ação policial”, compartilhou. “Todos os dias descubro algo novo sobre eles. Já identifiquei duas pessoas. E fiz amizade com uma pessoa que quase foi lesada! Eu chamei ela no direct e alertei sobre o golpe. E a história dela era a mesma que a minha, mas por sorte dela, eu cheguei a tempo e ela se livrou”.

Dados expostos

O golpe causou um prejuízo de R$ 730, mas a preocupação de Juliana não é com o dinheiro, e sim com seus dados pessoais que foram expostos.

“Recebo ligações de diversos bancos perguntando se eu quero dar continuidade em empréstimos que não contraí, ou para finalizar os dados para diversos cartões de crédito em inúmeros bancos”, disse. 

Compra online, hoje, apenas em sites super confiáveis, que me forneçam a segurança necessária para efetuar qualquer compra. Sites já conhecidos e renomados”, reiterou.

Medidas de segurança

O consultor em Tecnologia da Informação Valdick Sales alertou que, ao realizar uma compra online, os consumidores devem sempre estar atentos a diversos elementos. Um deles é a identidade do vendedor, ou seja, se o site em que está comprando é ou não verdadeiro. 

“A melhor maneira de você verificar é a seguinte: dentro do site, tem que ter o CGC e tem que ter o endereço do site. É importantíssimo ver isso. Pegue o nome do da empresa, vai no portal da Receita Federal e digita, vê quando aquela empresa foi aberta. Porque muitos abrem a empresa só para fazer as falcatruas”, citou. 

Ele chama a atenção para o cuidado de não clicar em nada, nenhum link recebido por e-mail ou outro caminho qualquer. “Entra direto na loja e procura as lojas que você já conhece. São lojas tradicionais. Qualquer coisa, você pode entrar na Reclame Aqui na e lá você tem a relação de lojas que já trabalham com uma certa segurança”. 

Outra recomendação é sempre verificar se o link do site começa com ‘HTTPS’. “Esse ‘S’ significa que ele é criptografado e, pra conseguir, você tem que se cadastrar e resolver várias situações que, geralmente, o fraudador não quer se envolver. Verifique a política de privacidade e a política de devolução, porque a lei garante que você pode devolver o produto em até sete dias”, comentou. 

Valdick reforçou a importância de olhar bem o produto: se ele está bem descrito, bem detalhado. E, caso já tenha alguma venda, verificar a opinião dos outros compradores, o que foi dito sobre ele. 

“Pedimos que os clientes usem métodos de pagamento como cartão de crédito. Porque, se houver uma fraude, você vai abrir um BO e, nesse momento, vai poder cancelar a compra. Mas, se você pagou via Pix ou boleto, foi embora seu dinheiro”, alertou.

"Até hoje não tive nenhum retorno”

Uma alagoana que optou por não se identificar, compartilhou sua experiência como vítima de um golpe de compras online. É que ela comprou um tênis ortopédico, mas havia uma oferta de "compre um tênis e ganhe outro" que nunca se concretizou. "A minha questão é porque eu não recebi o código de rastreador. Mandei várias mensagens pedindo código de rastreador, mas nunca recebi."

Ela explicou que ficou desconfiada quando viu uma reportagem semelhante sobre golpes online, pois fez o pagamento via Pix e não conseguiu obter informações sobre a entrega do produto. "Até hoje não tive nenhum retorno, já tem quase 30 dias e eu não tenho nenhuma resposta dessa compra."

A vítima também disse que não pretende procurar as autoridades: "A princípio eu não tinha pensado nessa possibilidade, mas mesmo assim eu teria que saber qual é a delegacia específica para isso. Se realmente vale a pena, porque às vezes a pessoa se disponibiliza a ir até a delegacia e muitas das vezes passa por humilhação, por ter caído no golpe e termina dando viagem perdida, sem conseguir resolver”, lamenta. 

A alagoana mencionou a intenção de entrar em contato com a loja por meio do Instagram e WhatsApp, na esperança de obter uma solução: "Eu deixei a mensagem e vou aguardar. Caso não tenha o retorno, eu vou procurar saber qual é a que eu tenho que procurar o boletim de ocorrência".

*Estagiária sob supervisão