Governadores integrantes do Consórcio Nordeste reagiram, em nota oficial divulgada neste domingo (06), às declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, defendendo a união do Sul e Sudeste “contra” o Nordeste. As falas consideradas xenofóbicas foram ditas em entrevista ao Jornal Estadão, publicada nesse sábado (05).
Ao falar da arrecadação maior para a União dos estados do Sul e Sudeste, que recebem “muito menos de volta” Zema fez uma analogia, comparando o Nordeste a uma “vaquinha que produz pouco”: “Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”.
Na nota oficial, assinada pelo presidente do Consórcio Nordeste, João Azevedo (governador da Paraíba), o colegiado de governadores afirma que Zema “demonstra uma leitura preocupante do Brasil” e ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, “sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”.
O texto prossegue afirmando que o Consórcio Nordeste nega “qualquer lampejo separatista” e anuncia como slogan: “O Brasil que cresce unido”.
“É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.’, ressalta trecho da nota.
“Nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura”, finaliza.
Ontem, no Twitter, pouco depois da publicação da entrevista de Zema, o deputado federal Paulão, de Alagoas, também repercutiu o assunto.
O parlamentar escreveu:
“Não será o preconceito, a molecagem, nem a perseguição do governador Zema, contra o povo nordestino que vai nos calar ou nos impedir de avançar na luta por um Brasil para todos. Respeite o Nordeste!”.

Confira a nota oficial do Consórcio Nordeste na íntegra:
O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.
O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais.
É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.
Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.
A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.
Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura.
Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023.
JOÃO AZEVÊDO
Presidente do Consórcio Nordeste
Governador do Estado da Paraíba