Caracterizada pela resistência insulínica e hiperglicemia durante a gravidez, a diabetes gestacional requer atenção especial para compreender os riscos associados, os desafios enfrentados e as medidas preventivas necessárias para promover uma gestação saudável. No Dia Nacional da Diabetes, comemorado nesta segunda-feira (26), especialistas destacam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
Ao CadaMinuto, a ginecologista e obstetra Grace Monteiro, explica que o diabetes gestacional é uma doença metabólica, caracterizada pela intolerância à glicose que se inicia durante a gestação. De acordo com ela, a doença afeta mulheres que anteriormente apresentavam níveis normais de glicose.
Fatores de risco e sequelas
Questionada sobre os fatores de risco, ela cita o histórico pessoal de intolerância à glicose ou diabetes em gestações anteriores, histórico familiar de diabetes em parentes de primeiro grau, obesidade, ganho excessivo de peso durante a gestação, presença de glicose na urina avaliada na primeira consulta, síndrome metabólica, síndrome dos ovários policísticos e hipertensão. Esses fatores aumentam as chances de desenvolvimento da diabetes gestacional.

Embora o diabetes geralmente desapareça após o parto, pode deixar sequelas duradouras. “Mulheres que tiveram diabetes gestacional têm maior probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro. Além disso, as crianças nascidas de mães diabéticas também têm maior risco de desenvolver tanto diabetes quanto obesidade. É recomendado que essas pacientes façam um exame de glicemia após seis semanas do parto, adotem uma dieta equilibrada e pratiquem exercícios físicos para reduzir o risco de desenvolver diabetes gestacional no pós-parto”, explica a obstetra.
Complicações maternas
A especialista destaca que maioria das mulheres com diabetes gestacional são assintomáticas, mas é importante ficar atenta a alguns sinais, como ganho excessivo de peso, aumento da frequência urinária, sede excessiva, infecções urinárias recorrentes e alterações no feto, como macrossomia (crescimento excessivo). O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue e rastreamento universal das pacientes.
Ela ressalta ainda que o diabetes gestacional pode causar complicações tanto para a mãe quanto para o feto. “Entre as complicações maternas, estão o aumento de líquido amniótico (polidrâmnio), maior chance de trabalho de parto prematuro, aumento de infecções urinárias, risco de hemorragia pós-parto, obesidade e aumento do risco de doenças cardiovasculares. Em relação às complicações fetais, há o crescimento aumentado do feto (macrossomia), que pode levar a problemas como hipóxia e óbito intrauterino. Após o nascimento, os bebês de mães com diabetes gestacional podem apresentar hipoglicemia e não são considerados saudáveis, apesar de seu tamanho”, avalia.
Conforme a obstetra, o diagnóstico da diabetes gestacional é geralmente realizado no segundo ou terceiro trimestre por meio do teste oral de tolerância à glicose. No entanto, já na primeira consulta de pré-natal, é importante realizar um exame de glicemia de jejum. “Se o resultado estiver acima de 126, a paciente provavelmente já é diabética, mas caso a glicemia esteja entre 92 e 125, é sugestivo de diabetes gestacional, sendo necessário repetir o exame de glicemia de jejum entre as 24 e 28 semanas”, conclui.
Tratamento nutricional
Já a nutricionista Raquel de Lima Chicuta ressaltou a relevância do tratamento nutricional adequado para garantir uma gestação saudável. Para ela, o tratamento nutricional desempenha um papel fundamental no controle dos níveis de açúcar no sangue e na prevenção de picos de hiperglicemia.
“Os principais desafios enfrentados pelas gestantes no manejo da dieta durante a gravidez são conseguir conter os desejos e a ansiedade diante da vontade de comer, além de se dispor a realizar um planejamento prévio, visto que, só é possível realizar as recomendações mediante planejamento e acesso”, expõe.

No que diz respeito à seleção de alimentos, a nutricionista recomenda evitar o consumo de alimentos ricos em açúcar refinado, como pães, massas, biscoitos e sucos prontos. Em vez disso, deve-se optar por alimentos saudáveis, de preferência in natura ou minimamente processados. É importante controlar as quantidades consumidas, mesmo em relação às frutas, considerando a carga glicêmica de cada uma.
“As recomendações gerais são: evitar o consumo de alimentos ricos em açúcar refinado, seja na forma de açúcar de adição ou alimentos que intrinsecamente tenham em sua composição açúcar simples em grande quantidade. Os alimentos escolhidos devem ser os mais saudáveis possíveis, de preferência os in natura ou minimamente processados. No entanto, é necessário ter cuidado com as quantidades consumidas, ainda que sejam alimentos in natura”, alerta a nutricionista.
Além da dieta, outros aspectos do estilo de vida também desempenham um papel relevante no controle do diabetes gestacional. A prática de exercícios físicos, desde que autorizada e acompanhada por profissionais adequados, e o gerenciamento do estresse são importantes aliados nesse contexto.
Raquel destaca que o nutricionista desempenha um papel primordial no manejo nutricional e no direcionamento das orientações alimentares personalizadas. “O acompanhamento nutricional deve ocorrer em todas as fases da vida. E, desde a pré-concepção até o puerpério. Inclusive e com mais essencialidade em situações patológicas, como o diabetes gestacional. O acompanhamento nutricional deve ocorrer mensalmente para realizar avaliação do controle e manutenção da glicemia e peso. O papel do nutricionista é primordial, porque é o profissional capacitado no manejo nutricional para o controle do diabetes na gestação”, pondera.
Para as mulheres grávidas diagnosticadas com diabetes gestacional, a nutricionista recomenda procurar imediatamente um profissional especializado para elaborar um plano alimentar adequado às suas necessidades.
Confira as dicas da nutricionista:
- Fracione as refeições em 5 a 6 vezes por dia, evitando longos períodos sem se alimentar e/ou grande consumo de alimentos em uma única refeição;
- Aumente o consumo de fibras. Elas são encontradas em alimentos de origem vegetal, como legumes, hortaliças, frutas, feijão, arroz integral, aveia, chia, linhaça e raízes. Prefira consumir alimentos com cascas e bagaços;
- Prefira raízes e tubérculos como fonte de carboidratos: batata doce, inhame e macaxeira;
- Evite o consumo de alimentos industrializados como: pães, miojo, massas, doces, biscoito recheado, bolachas, leite condensado, bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos de caixinha);
- Sempre que consumir uma opção de carboidrato adicionar uma fonte de proteína ou gordura boa. Ex.: fruta+ oleaginosas;
- Excluir açúcar refinado ao adoçar, preferir adoçante.
*Estagiária sob supervisão