O ano foi 2013, mas Manuela Herculano Tenório, de 38 anos, lembra com detalhes de tudo que aconteceu. Ela teve 70% do corpo queimado após um acidente doméstico na casa dela.

“Eu tive uma crise convulsiva epiléptica em fevereiro de 2013. Quando eu fui fritar um ovo com a margarina deu uma crise forte e quando eu ia caindo por cima do fogão sem querer bati na panela, e a margarina tocou no fogo e o fogo subiu tão alto que pegou o meu cabelo, rosto, braços e toda a minha barriga”, contou.

Manuela afirmou ao Cada Minuto que tentou apagar o fogo com a água, mas o fogo se espalhou mais. “Os médicos me falaram que o correto era ter colocado um pano úmido. Entretanto, muitas pessoas não sabem que o correto é fazer isso”.

Após a queimadura, Manuela foi encaminhada ao HGE, mas o caso dela era grave. “Explicaram para a minha família que o meu acidente tinha sido muito grave e que a qualquer momento eu poderia morrer. Só deram 15 dias de vida para mim”.

Manuela na época que estava internada no HGE. Foto: Cortesia

Oxigênio, várias cirurgias, enxerto de pele, fisioterapia respiratória. Foi assim o tratamento de Manuela no HGE.

“Fiquei no oxigênio, fizeram várias cirurgias de desbridamento e depois de dois meses fizeram o enxerto de pele, onde retiraram toda a pele das minhas pernas para botar por cima das minhas queimaduras. Passei 5 dias com meus braços abertos e amarrados  para o enxerto não cair”, contou.

Ela também reforça que durante todo seu tratamento foi bem atendida pela equipe médica do hospital e que eles “não desistiram dela”. “Cuidaram e acreditaram na minha recuperação”.

Por causa do acidente, Manuela perdeu as duas orelhas e a mão esquerda não fecha devido às queimaduras. Ela sabe que não é fácil lidar com os olhares das pessoas, mas ela tenta levar a vida normal.  

“Eu não posso me esconder ou reclamar com Deus porque tudo isso aconteceu. O que eu tenho é que agradecer a Deus sempre pela oportunidade de viver novamente. Sou grata também pelo meu filho que foi meu herói, com apenas nove anos, ele ainda me ajudou a apagar o fogo do meu corpo e foi pedir ajuda”, enfatizou.

 

Dados em AL

Nos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano, o Hospital Geral do Estado (HGE) atendeu 56 vítimas de queimaduras em Alagoas. Em 2022, foram registradas 206 internações na unidade hospitalar.

De acordo com dados que o HGE enviou ao Cada Minuto, 24 pessoas atendidas tiveram contato direto com líquidos superaquecidos; um com sólido superaquecido, seis tiveram queimaduras provenientes de choque elétrico; dois com explosivos, 11 com álcool líquido e outros com substâncias químicas e vapor.

Sete delas tiveram contato direto com a chama, como é o caso das vítimas do incêndio que ocorreu em um residencial no bairro do Benedito Bentes, em Maceió. Ao todo, naquele incêndio, 4 pessoas morreram.

Os homens são maioria das vítimas. Ao todo, até março de 2023, foram 29 homens atendidos e 27 mulheres. Ainda conforme os dados, 29% das vítimas eram crianças de 0 a 10 anos, com 16 internações por queimaduras; 55% das pessoas tiveram 10% do corpo queimado. Dos casos, 29 ocorreram em Maceió e 27 no interior de Alagoas.

Em 2022, nos três primeiros meses foram registrados 53 casos de queimaduras.

 

Orientação

Repórter Fotográfico: Thallysson Alves

Conforme o cirurgião plástico, Thyago Carvalho, em caso de queimadura, a orientação é lavar o local em água corrente, com temperatura ambiente, durante 20 minutos.

“Isso fará com que o processo de queimadura da pele estacione, aliviando a dor e limpando a ferida. Em seguida, deve-se envolver a área com um pano limpo e procurar imediatamente o atendimento especializado. É importante não passar nenhum produto no local ferido, sem receber orientação do médico”, reforçou.

O médico disse que “nada de pomada, borra de café, pasta de dente ou qualquer outra prática não defendida pelos estudos científicos”.

“É importante que o local esteja limpo na hora que chegar ao pronto-socorro. Isso pode ajudar a avaliar melhor a lesão, aliviar a dor e diminuir o risco de desenvolver infecções, que são um grande risco a qualquer pessoa com a imunidade abalada”, orientou o cirurgião plástico.

 

Serviço

O CTQ é o único especializado no atendimento de média e alta complexidade a cidadãos feridos por queimadura em Alagoas. Ele dispõe de 16 leitos, sendo cinco pediátricos, quatro para mulheres, seis para homens e um de precaução por contato. E conta com a atuação de diversos profissionais.