O assassinato brutal e covarde que foi vítima o deputado estadual José Marques da Silva ocorrido no dia 07 de fevereiro de 1957, em Arapiraca é sem dúvida um crime previamente anunciado. Inclusive, pouco antes das eleições, a casa do médico e parlamentar foi alvo de tiroteio no final da tarde.

A eleição com a soberania do povo o consagrou vitorioso com 3.670 votos. Seu coeficiente deu para eleger mais dois deputados. A vitória da UND irritou, sobremaneira, os adversários que fizeram do deputado, vitorioso o alvo da ira dos adversários. Diante da onda de terror implantada não só em Arapiraca, como em todo o estado de Alagoas, sob a inspiração direta do então governador Muniz Falcão, Marques suspeitava que uma trama criminosa se organizava para o extermínio de sua vida.

 

Na carta ao presidente nacional da UDN a trágica previsão 

“Se o ponto final dessa verdadeira tragédia for, como tudo indica, minha eliminação pessoal, desejo, apenas, que minha família sofra com resignação e cuide de meus três filhinhos, a fim de que, mais tarde, eles possam fazer, por Alagoas e pelo Brasil, o que não me foi possível realizar”

Angustiante em suspeitar que vai ser assassinado? Sim, porque José Marques não só suspeitava como escreveu uma carta para o presidente nacional do seu partido descrevendo os últimos acontecimentos e a sua morte. Mas claro que para isso houve um, ou vários, episódios de violência em Arapiraca

Na noite do dia 23 de outubro de 1956, o vereador e forte correligionário de José Marques, Benício Alves de Oliveira, foi assassinado de “tocaia” quando chegava à casa da sua amante, Judite Caetano, no sítio Alexandre, zona rural de Arapiraca.

De acordo com os historiadores, o vereador era muito odiado pelo grupo político liderado pelo então deputado estadual Claudenor Albuquerque e pelos membros da família Barbosa, que não viam limites para se perpetuarem no poder e manterem a hegemonia política na cidade mais importante do interior do Estado naquela fase nebulosa e violenta da política alagoana.

A principal testemunha do crime foi o motorista de Benício, conhecido como Zé Pequeno, que ficou escondido embaixo de um caminhão de propriedade do vereador e saiu ileso do episódio.

Diante dos fatos, o deputado estadual denunciou tudo ao partido, que mandou João Agripino para observar, in loco, os acontecimentos de Alagoas. Constatando a veracidade dos fatos, o secretário-geral recebeu do governador Muniz Falcão a promessa que iria restabelecer a paz e a tranquilidade em Arapiraca. Mas não passava de simplesmente uma trégua.

Percebendo que os fatos políticos tinham atingido a esfera federal, o governador substituiu a arbitrária autoridade do município de Arapiraca o delegado e capitão PM Cícero Argolo, que no exercício do cargo se manteve distante das paixões políticas locais. Durante três meses nenhum fato violente aconteceu no município.

Mas tal situação não satisfazia os adversários, como o deputado Claudenor Lima, que não admitiam a sobrevivência senão daqueles que rezassem na sua cartilha política. Atendendo essa exigência, Muniz Falcão substituiu o capitão por um civil, Francisco Pereira Lima, candidato a prefeito e derrotado no último pleito.

A partir daí foi registrado o assassinato de Benício e o extermínio do deputado estadual José Marques da Silva já estava todo arquitetado.

“Prefiro morrer com honra a viver sem ela. Não deixarei meu Estado, nem abandonarei minha família e o povo que me elegeu para que, amanhã, meus filhos tenham vergonha de ouvirem falar do meu nome”.

A previsão trágica de Marques da Silva foi concretizada no dia 07 de fevereiro de 1957, quando foi atraído em uma cilada no exercício da sua atividade médica. Foi assassinado aos 32 anos de idade, faria 33 no dia 12 de fevereiro, mas cinco dias antes foi morto. Ele saiu pouco tempo antes para atender Nair Fernandes. Mas tal chamado não passava de uma armadilha ardilosa dos adversários.

Ao voltar para casa ele foi atingido no coração, pelas costas, curvou-se, tentou apressar os passos e tombou próximo ao meio fio da calçada de sua residência. E esposa do deputado ficou desesperada, aos gritos perguntou “Marques, o que é isso?”, mas o deputado estava praticamente morto, com os braços sobre a barriga, ele agonizava.

O crime que foi vítima o deputado estadual Marques da Silva, foi um golpe fatal conta o então governador Muniz Falcão, que passou a ser culpado por tudo.

No dia 09 de fevereiro, deputado estadual Oséas Cardoso apresenta ao presidente da ALE denúncia contra o chefe do executivo, acusando-o de conivência nos assassinatos de líderes da oposição e de violência contra o legislativo e judiciário. É aberto o processo de impeachment contra Muniz Falcão. 

Governador Muniz Falcão

O Impeachment seria votado no dia 13 de setembro de 1957, mas o gatilho das metralhadoras falou mais alto. Às 14h30 acontece o episódio mais triste e de repercussão nacional da história política alagoana. Reunida para votar o processo de impedimento de Muniz Falcão, a ALE transforma-se em um verdadeiro campo de batalha em meio à imensa fuzilaria que ao terminar deixou o deputado estadual palmeirense Humberto Mendes, sogro do governador Muniz Falcão morto e um jornalista ferido, além de um funcionário e cinco deputados da oposição.

 

Coronel Cícero Argolo