Passadas as festas de final de ano e a “euforia” das férias, aos poucos a vida vai voltando ao normal e as contas começam a chegar. Matrícula da escola, da faculdade, material escolar, fardamento, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e outras obrigações financeiras chegam para todos. 

Victor Hortêncio, doutorando em economia e assessor econômico e coordenador do Instituto de Pesquisas da Fecomércio, defende que responsabilidade é a palavra-chave para poder honrar as contas e não se endividar.

Em pesquisa realizada pela Fecomércio, 68% dos maceioenses afirmaram estar endividados. Considerando os impostos municipais e estaduais, Hortêncio comentou que os benefícios de parcelar ou não dependem muito da renda. Como as parcelas não têm juros e sim descontos para quem paga antecipado, para aqueles que conseguiram guardar um pouco da renda durante os 12 meses do ano é uma boa alternativa pagar de uma vez, pois extingue aquela dívida e não começa o ano parcelando, uma vez que a subtração da poupança não vai comprometer a renda durante vários meses. 

Já para quem não pode quitar, o parcelamento é uma opção. No entanto, é preciso ter consciência das outras dívidas que já existem, pois vai juntar mais uma parcela para comprometer a renda. Victor ressalta que o ideal, conforme estudos de finanças pessoais, é que as parcelas ou as dívidas de cartão de crédito não ultrapassem 30% da renda, pois já há um comprometimento com contas correntes como água, luz, telefone, combustível, passagem e ouras.

 

Quem já tem dívidas?

“As pessoas sabem o quanto ganham, porém não têm ideia de quanto gastam”, alertou o economista. Logo, é preciso fazer uma organização com planilhas ou cadernos, o que for mais fácil, e assim saber o quanto está gastando, principalmente com parcelas, para saber se deve se preocupar ou não. “A partir do momento que se sabe o quanto se deve, fica mais fácil para tentar conciliar as dívidas”.

Uma recomendação é, quando possível, adiantar aquelas parcelas de valor menor. Outra dica é tentar diminuir os lados supérfluos.

O economista explicou que o endividamento é uma coisa progressiva que evoluiu para a inadimplência. Nesse caso, o conselho é, se a pessoa tiver dívidas no cartão de crédito, cujos juros mensais chegam a 4,2% (ou seja, 48% ao ano), avalie fazer um empréstimo no crédito consignado, cujos juros são de 1% a 2%, e, na pior das hipóteses, irá pagar a metade dos juros do cartão de crédito. “Depois desse ‘susto’, é preciso diminuir o hábito de ficar se endividando demais ao ponto de não poder honrar os seus compromissos”.

Hortêncio recomendou que as pessoas comprem, se divirtam e saibam usar a renda da melhor forma possível, e acrescentou que isso pode ser feito de forma organizada e responsável. “Sei que não está fácil, a inflação e o custo de vida estão altos e muitas vezes o crédito é uma salvação, um complemento de renda fictício, que não existe, já que aquele valor não é dado, é emprestado e cobrado com juros”, disse. 

Porém, o economista destaca que o crédito não é ruim, ele pode realizar sonhos, comprar coisas a prazo, mas é preciso entender para que ele serve e usá-lo de forma consciente. 

O crédito deve ser utilizado para comprar bens duráveis e não para coisas como combustível, comida em restaurantes, alimentos no mercado ou outras contas recorrentes, pois são compras habituais e, dessa forma, é fácil perder o controle. “Ou a pessoa tem o controle ou acaba comprometendo a renda futura”, recomendou.

Para poder driblar esses “apertos”, o economista sugeriu, quando possível, tentar diversificar a renda e não ficar refém de uma renda única. Outra coisa é fazer pesquisa e não comprar por impulso e fazer o planejamento. 

 

Menos é mais

É muito comum entrar em lojas e nos depararmos com os atendentes oferecendo os cartões dos estabelecimentos. Sobre isso o economista alerta que ter mais de um cartão pode enganar a mente, propositalmente ou não, de que está devendo pouco em um, pouco em outro, no entanto quando junta tudo a pessoa gasta a metade de sua renda pagando as faturas. 

A dica é ter no máximo dois cartões. Um principal e um de backup, para deixar guardado e usar só em caso de extrema necessidade. Pois se utilizar apenas um, ao ver a fatura aumentar terá maior controle.

Dos endividados da capital, uma média de 95% usa o cartão de crédito, que praticamente se tornou uma moeda.