Como todos sabem, o que Arapiraca é hoje, basicamente deve-se ao devotado trabalho e ao suor derramado por homens e mulheres que se dedicaram a atividade fumageira, acordando antes do cantar do galo e dormindo tarde para preparar a terra, semear, não faltar aos exigentes tratos culturais no campo, colher e manusear o fumo para transformá-lo em produto comercializável no Brasil e no exterior.
Foi, portanto a florescente atividade fumageira, a alavanca molar do crescimento e do desenvolvimento de Arapiraca, polo agrícola que chegou a ser a maior área contínua cultivada com fumo na América Latina, dando a Arapiraca, o galardão de ser reconhecida como “capital brasileira do fumo”.
Como artista plástico profissional, produzi um vistoso e extenso mural no salão nobre do que era o Clube dos Fumicultores, ilustrando modernamente todas as etapas da atividade fumageira, obra essa que lamentavelmente foi barbaramente destruída, constituindo-se em um flagrante desrespeito ao autor da obra em comento, e sobretudo a sagrada memória afetiva dos nossos tenazes fumicultores, principais vítimas do tão imperdoável aviltamento.
Quero ressaltar que, nem mesmo uma Lei Municipal aprovada pela unanimidade dos doutos pares da egrégia Câmara de Vereadores, e sancionada pelo então Prefeito Rogério Teófilo, dispondo sobre o tombamento daquele valioso patrimônio material, histórico e cultural, garantindo sua permanente preservação e inamovibilidade, foram alvo do mínimo respeito, escarraram na Lei e violentaram brutalmente uma inerte obra de arte.
Cabe também ressaltar aqui, que quando fui vereador em Arapiraca durante dez anos, e deputado estadual por 3 legislaturas consecutivas, sempre assomei a tribuna para defender os interesses dos fumicultores e a valorização da atividade fumageira. Hoje, sem mandato e fora da vida pública, mesmo assim, sem direito a voz nem voto no Parlamento, não me faltam vigor, entusiasmo e inspiração para levantar a minha voz no parlatório popular exaltando aos intrépidos fumicultores, que deram tudo por Arapiraca, e hoje, as portas das comemorações do seu Primeiro Centenário, veem sua memória abjetamente enterrada indigentemente na vala do esquecimento. Está escrito no Livro dos Salmos, que: “a ingratidão é o pecado que mais ofende a Deus”.
ISMAEL PEREIRA – é artista plástico, escritor e bacharel em Direito.