Existe, sim, um jogo político profissional com regras diferentes daquelas que regem a nossa vida privada.

Não há, nesse meio, inimigos definitivos e amigos para sempre. O que define as alianças são as correlações de força e os objetivos dos envolvidos nas negociações - pragmaticamente.

O que não significa que os acordos, que fique bem claro, sejam uma licença para roubar, corromper ou mesmo investir nas ações contrárias aos interesses da população brasileira.

Evidentemente, esta é uma via de duas mãos, em que um lado dá algo para receber alguma coisa em troca.

No caso de que tratamos aqui, os partidos da base do futuro governo Lula precisam, mais do que nunca, ampliar o apoio parlamentar para que alguns programas divulgados sejam implementados o mais rapidamente possível.

O Congresso, lembremos, está dividido, e se Lula não conseguir uma maioria confiável vai se tornar uma frustração rapidamente (e nem considero aqui os lunáticos do 3º turno).

Arthur Lira tem chances de conseguir a reeleição à presidência da Câmara Federal mesmo sem o apoio dos partidos da base do futuro presidente – já contava na sua base com mais de dez legendas -, e o pior cenário para Lula seria tê-lo como “inimigo”.

Lira, bem sabemos, é um parlamentar de reduto e fisiológico – não muito diferente da maioria dos seus colegas de bancada de Alagoas (o estado campeão da fome no Brasil), na Câmara e no Senado, ou mesmo do restante dos congressistas. Conhece os seus pares e fala a sua língua, considerando, inclusive, as variações regionais.

Uma composição com a futura Mesa, com a distribuição mais democrática das Comissões, além da “boa vontade” do presidente da Casa na tramitação das matérias de interesse do Planalto, é o que se busca com esse acordo.

Nenhuma ilusão, evidentemente, quanto ao futuro virtuoso do Congresso e/ou do governo, mas o que está posto neste momento é o que parece possível e tolerável.

No mais, cabe à população manter seu nível crítico lá em cima, lembrando que os que estão no governo e no parlamento foram postos lá por nós mesmos.

O bom é que a democracia tem dessas coisas: o que não dá certo pode sempre ser descartado – sem golpe.