“Estou cansado!”

Ouço a mesma frase da boca de tantos conhecidos e queridos, que não precisam explicar a sensação de exaustão a que se referem.

Nas olheiras de um amigo, vejo as noites insones e atravessadas duramente, com a consciência de quem se sabe humano e parte de um todo que teima em existir quando a ordem é desistir. Mas já se sente gastando as suas últimas energias numa guerra inventada por quem dela precisa para estar no poder – em cada batalha cotidiana e insana.

Política é isso?

É também isso, mas não há de ser só isso.

Eis a grande diferença da quadra em que vivemos no Brasil. Essa não é uma campanha qualquer, uma disputa entre duas correntes ideológicas que moram entre nós, na mente dos brasileiros. 

O que temos agora é um embate inconciliável, que nos seria inimaginável no pós-ditadura, entre a civilização e a barbárie. 

Contradizendo os que diziam e/ou achavam que já havíamos avançado casas evolutivas suficientes no tabuleiro da história humana, a ponto de não mais retroceder, convictos que estavam de que a morte às diferenças e aos diferentes era coisa de um passado algo distante.

A sensação que eu tenho, por esses dias, é de que muita gente, até boa e generosa, foi perdendo sua humanidade, saiu do prumo e do rumo das suas existências, reduzidas a discussões sem desfecho e que dispensam pretextos. Apenas acontecem, por um impulso irrefreável vindo lá das cavernas.

Sim, porque na verdade os que insistem em encravar nos nossos peitos abertos - e alguns avessos ao desamor sem-fim - os mesmos pontos de vista ilógicos e estúpidos, apenas os copiam e os replicam sem questionamento, no piloto automático, renunciando à própria razão. Esses homens e mulheres precisam mesmo é da guerra para que se sintam vivos.

Hoje?

Tão somente mortos-vivos.

Ninguém conhece ninguém, eis uma verdade incontestável. Mas me pergunto onde essas pessoas que derramam o seu contagioso veneno no ar, que desaprenderam a dizer “bom dia”, que corroem os afetos com o seu fel, onde elas escondiam a infelicidade de ser quem não eram. 

Sim, repito, porque esses tempos pelo menos têm o dom de revelar o tanto de tristeza, que se transforma em ódio, a explodir pelos poros, que vira amor às armas, mas que já morava, secretamente, num cantinho da alma a que só o dono (a dona) tinha acesso, e nele não punha um fiapo de luz.

Como será o amanhã para essa turma, se o que o que eles perseguem cegamente, pelos olhos do líder que se sabe dono das suas vontades e “verdades”, que se jacta de ser a voz da virtude, mesmo quando a virtude se nega a viver entre os seus, não lhes chegar?

Sinceramente, torço para que essa gente embrutecida pela raiva passe a dormir, a partir de segunda-feira, sem a corrosiva vontade de ver sob sete palmos do chão aqueles que se tornaram, às vezes do dia para a noite, o mal a ser eliminado. 

E o que eu desejo, de coração?   

Simplesmente, que o amanhã, a mesmíssima segunda-feira, seja um dia normal, apenas normal, nas nossas vidas - como há muito tempo não temos.

E bem que merecemos e precisamos.