É verdade que boa parte da imprensa nos grandes centros urbanos e políticos pratica, independentemente da dosagem, a nordestinofobia - mal que o presidente Bolsonaro professa com frequência.
Verdade é, também, que o deputado Arthur Lira não liga muito para a chamada opinião pública, a crítica menos rasa, e vai agindo de acordo com as necessidades políticas – dele, que fique claro.
Hoje, alguns cartazes espalhados em São Paulo e Brasília colocaram o presidente da Câmara Federal como um integrante de uma suposta “bancada do câncer”, pela aprovação do PL sobre agrotóxicos – uma iniciativa de grupos ambientalistas. E olha que o Brasil já é o terceiro país do mundo em uso de veneno na agricultura.
Um exagero. Tudo bem que se houvesse mesmo uma bancada do câncer no parlamento brasileiro, por similaridade à matéria aprovada ontem, ela seria bem mais extensa e não caberia num cartaz de rua.
Fato concreto é que o projeto de lei tinha 20 anos de “casa”, e só foi votado agora, ligeirinho, direto no plenário, graças ao empurrão de Lira, muito alinhado às pautas bolsonaristas e ruralistas. O presidente da Câmara Federal, ao fim e ao cabo, é quem define a pauta de votação dos deputados.
O projeto de lei 6.922 de 2002, chamado pelos adversários de “pacote do veneno”, deixa como responsabilidade praticamente exclusiva do Ministério da Agricultura o controle dos agrotóxicos, que passam a ser chamados de “pesticidas”.
Lindo! Só matam as pragas da lavoura, não atacam o meio ambiente nem atingem a vida humana - muda o nome, e tudo se resolve.
O tema merecia o debate longo e profundo com a comunidade científica, num país em que as pesquisas na área de agricultura produzem resultados de produção e econômicos que assombram o mundo. E se esta é uma área em que o Brasil dá exemplo ao mundo, em produtividade e qualidade, não será o aumento do uso de agrotóxico que vai melhorar a imagem do país lá fora ou a saúde da turma aqui de dentro.
O atalho adotado pela Câmara Federal (por ampla maioria) mostra que “passar o trator” é só uma questão de oportunidade – ocorre e ocorrerá sempre no momento em que “a nossa pátria mãe tão distraída” dormir com os dois olhos fechados.
Lira bem que poderia passar sem essa versão de “menino veneno”.