Renda defasada e inadimplência em alta: economistas orientam sobre melhor forma de pagar “contas de janeiro”

10/01/2022 06:08 - Economia
Por Alícia Flores* e Gabriela Borba*
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Como em todo início de ano, os alagoanos já se preparam para a chegada de contas como Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), seguro veicular, matrícula, material escolar, dentre outras.

Pensando em todas essas despesas, o CadaMinuto conversou com dois economistas sobre as contas de início do ano, com sugestões sobre as vantagens do pagamento à vista ou do parcelamento de valores.

O economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Jarpa Aramis explicou que, no início do ano, o essencial é pôr em prática a educação financeira. 

“O primeiro passo é conhecer aquilo que o cidadão possui de receita e conhecer o que há de despesa”, falou. “Algumas [contas], é possível saber o valor, outras não há como ter precisão, mas há uma média de quanto vão custar. Então, eu posso ter uma previsão do quanto será gasto em agosto ou dezembro de 2022, por exemplo”.

Ele reforça que educação financeira requer mudança de comportamento, ou seja, é preciso monitorar os gastos. “É mudança de hábito, mudança de comportamento, acompanhar de maneira rotineira aquilo que se gasta”, frisou.

Jarpa orienta, também, que é recomendável colocar no orçamento fixo do mês as refeições feitas fora de casa. “Não só o lanche, como almoço e lazer. É muito comum que pessoas que têm controle financeiro definam percentuais do quanto será gasto. Por exemplo, eu defino R$ 200 para lazer esse mês. Então, todos os meses, esse é o valor que irei gastar com lazer”, disse.

Em relação à comparação entre preço e qualidade dos produtos, Jarpa explica que a “conta” deve ser feita de acordo com a situação financeira de cada família. “À medida que a gente tem uma renda mais elevada, tendemos a consumir produtos de melhor qualidade e aí cabe a máxima: tem que caber no bolso”.

Segundo o professor, o método mais adequado é avaliar se o bem ou o serviço que pretende adquirir vai conseguir se encaixar no orçamento, ou seja, na previsão de gastos mensais.

Reflexão e redefinição de consumo

A economista Luciana Caetano esclareceu que cada consumidor, a depender do seu estilo de vida e de sua renda mensal, terá um grupo específico de despesas. Licenciamento do carro, IPVA, IPTU, matrícula e material escolar, anuidade de Conselho Regional, seguro e revisão de carro são exemplos de despesas que se concentram no primeiro trimestre de cada ano e, caso não haja uma reserva específica para estes gastos, podem pesar no bolso do consumidor. 

Ela conta que é possível conseguir um desconto de 5% a 20% no pagamento à vista de algumas dessas despesas. “Se o consumidor tiver uma reserva, vale a pena pagar à vista, posto que nenhuma aplicação financeira proporciona rendimento mais elevado que os descontos ofertados”.

A respeito das contas que apresentam mais vantagens ao serem pagas à vista e as que, de preferência, devem ser parceladas, a especialista orienta o consumidor a avaliar a porcentagem de desconto. Segundo ela, no caso das despesas em que o desconto à vista seja igual ou superior a 5% e o parcelamento corresponda a poucas parcelas, de três a seis, o ideal é efetuar o pagamento de uma só vez. Já nos casos em que o número de parcelas varia entre 10 e 12 e o desconto à vista é de 5%, é preferível parcelar. Para desconto igual ou superior a 10%, o mais vantajoso é pagar à vista, mesmo para parcelamentos de 10 a 12 meses.

“Vale, para todos os casos, uma reflexão: se o consumidor dispõe do valor para pagamento à vista e não vai aplicar em nenhum ativo, é importante livrar-se da dívida o quanto antes, porque deixa a renda livre para possíveis imprevistos”, conclui.

Para este ano de 2022, Luciana indica que as pessoas façam uma reserva para a quitação de todas as despesas esporádicas, economizando pelo menos 1/12 mensalmente do valor a ser pago, ou um pouco mais, pensando na correção dos valores devido à inflação. 

“Por exemplo, se uma família tem R$ 2.400 de despesas esporádicas concentradas em dado período, deve economizar, no mínimo, R$ 200 por mês. Uma reserva programada possibilitaria a quitação desses débitos sempre à vista, com descontos de até 20% para algumas despesas quitadas à vista”, exemplifica Luciana.

Negociação de dívidas

Em casos de dívidas com mais de uma empresa, o economista Jarpa Aramis afirma que o importante é reconhecer o débito, informando à organização a qual está devendo que tem conhecimento do valor, mas não possui condições de pagar no momento.

“Caso surja uma margem para custear, não o total, mas uma parte, é melhor dizer: ‘olha, a única condição que eu tenho de efetuar esse débito é nessas condições’. E sempre reconhecer, nunca deixar quem você está devendo sem nenhum tipo de informação”, instruiu. 

Se houver a possibilidade de arrumar um recurso, a dica do economista é reunir todos os débitos em uma única conta. “Primeiro, você não perde o prazo, não perde a data e concentra tudo em uma única parcela. Imagina que você está devendo em cinco lugares diferentes. Se você conseguir com um familiar, com um amigo ou até uma instituição financeira que possa lhe dispor de um recurso para você pagar tudo, você fica com uma única conta para pagar, uma única parcela e você passa a ter um melhor controle sobre aquilo que você está devendo”.

Para os cidadãos que estão inadimplentes, ou seja, estão com um atraso de mais de três meses na quitação de dívidas, a instrução da economista Luciana Caetano é uma redefinição no padrão de consumo, com redução de gastos ou substituição de bens e serviços. 

Além desses ajustes, é necessário observar a taxa de juros e multas que incidem sobre a dívida atual. “Se não houver espaço para negociação com o credor, vale a pena tentar uma substituição de dívida, se o custo da dívida original for muito elevado”. 

Ainda de acordo com a especialista, a inadimplência é um reflexo da dificuldade das famílias em manter o mesmo padrão de consumo com uma renda defasada pela expansão da inflação frente a salários congelados. Algumas categorias profissionais estão com salários defasados há mais de três anos, com uma inflação acumulada de, aproximadamente, 30%, exemplificou.

Equilíbrio

A Policial Militar Pâmela Polyana, de 38 anos, conta que, como as despesas de início de ano têm valor muito alto, e ainda há contas fixas, como a de energia, ela opta pelo parcelamento.

Para a militar, é mais vantajoso pagar à vista as contas que oferecem algum tipo de desconto. Para as que não possuem, ela acredita que usar o cartão de crédito vale a pena, assim ela não compromete a renda salarial por completo. Mas ela reforça que é preciso saber usar o cartão de crédito e viver de acordo com o que se ganha. 

Algumas das despesas que Pâmela não possui o hábito de parcelar são as que se repetem todos os meses, no caso dela, gasolina, alimentação e energia, por exemplo. “Uma despesa que para mim vale a pena parcelar são os módulos escolares do meu filho, pois não há possibilidade de um desconto à vista, então eu prefiro parcelar. Pra mim, sempre faz sentido e dá certo”.

Pâmela admite que não possui o hábito de juntar, ao longo dos meses, parte do salário para arcar com essas despesas no início do ano, mas costuma guardar uma parte para urgências, além de poupar para viagens e programações de fim de ano. 

”Acabo contando com o décimo terceiro salário para suprir parte desses gastos e parcelo outros. Em dezembro, a gente acaba gastando mais com festas e viagens, por exemplo”, relata. 

Um dos métodos usados por Pâmela para equilibrar as finanças durante todo o ano é se organizar de acordo com o seu salário e não consumir itens que ultrapassem o valor que recebe mensalmente. “Viver de acordo com o que se ganha, não com o que se deseja”, reforçou.

Pâmela acrescenta que tenta guardar um pouco de dinheiro todos os meses, como uma reserva de emergência e também para o lazer, mas afirma que está cada vez mais difícil fazer isso. “Cada vez mais as compras corriqueiras, como supermercado, energia e escola, estão aumentando o valor, está até mesmo virando um malabarismo pagar todas as contas em dia. Guardar, então, está bem puxado”, admite.

*Estagiárias sob supervisão da editoria

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