Coivara da Memória

29/11/2021 06:54 - Roberto Gonçalves
Por Ismael Pereira
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Meu mais que cinquentenário Clube dos Fumicultores

Meu velho amigo

Você que por muito tempo espargiu tantas alegrias

Você que nos proporcionou tantos momentos bons

Que foi palco de incontáveis festas animadas

Que serviu de Centro de Convenções e até de Fórum 

Que foi um alumbrante polivalente

Hoje é apenas o retrato desbotado do ocaso

Me lembrando um óleo sobre tela de Tarsila do Amaral, “O Sol Poente”

Assim o vejo agora

Um triste e pálido sol ponte

Agonizante 

Fadado a uma morte encomendada

Uma morte desejada

Como diria o grande Nelson Rodrigues

Uma morte anunciada

Nem serás velado

E Missa de Réquiem nem pensar

Você está sendo vítima da brevidade

Brevidade de vê-lo soçobrar

Brevidade de vê-lo morto e sepultado

E o mais ingrato

Como um reles indigente 

Enterrado no mesmo pedaço de chão que nascestes

Meu intrépido Clube dos Fumicultores

Esteja convicto que lutei por você com disposição juvenil

Eu e seus verdadeiros amigos 

No afã de defendê-lo combatemos o bom combate

Formamos uma muralha de peitos livres 

Mas, meu velho amigo

A força e a fúria de um mar bravio foram mais fortes

Corroeram os penedos da nossa combativa resistência

E, destarte, meu anoso amigo

Nada mais poderei fazer por você

A não ser, ao ver tombar sua última parede

E ter diante dos meus olhos a imagem dos seus escombros

Triste e silenciosamente testemunhar

O Crepitar da Coivara da Memória 

 

*Ismael Pereira é Cidadão Honorário de Arapiraca, artista plástico, escritor, poeta e bacharel em Direito.

 

 

 

 

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