Coivara da Memória
Meu mais que cinquentenário Clube dos Fumicultores
Meu velho amigo
Você que por muito tempo espargiu tantas alegrias
Você que nos proporcionou tantos momentos bons
Que foi palco de incontáveis festas animadas
Que serviu de Centro de Convenções e até de Fórum
Que foi um alumbrante polivalente
Hoje é apenas o retrato desbotado do ocaso
Me lembrando um óleo sobre tela de Tarsila do Amaral, “O Sol Poente”
Assim o vejo agora
Um triste e pálido sol ponte
Agonizante
Fadado a uma morte encomendada
Uma morte desejada
Como diria o grande Nelson Rodrigues
Uma morte anunciada
Nem serás velado
E Missa de Réquiem nem pensar
Você está sendo vítima da brevidade
Brevidade de vê-lo soçobrar
Brevidade de vê-lo morto e sepultado
E o mais ingrato
Como um reles indigente
Enterrado no mesmo pedaço de chão que nascestes
Meu intrépido Clube dos Fumicultores
Esteja convicto que lutei por você com disposição juvenil
Eu e seus verdadeiros amigos
No afã de defendê-lo combatemos o bom combate
Formamos uma muralha de peitos livres
Mas, meu velho amigo
A força e a fúria de um mar bravio foram mais fortes
Corroeram os penedos da nossa combativa resistência
E, destarte, meu anoso amigo
Nada mais poderei fazer por você
A não ser, ao ver tombar sua última parede
E ter diante dos meus olhos a imagem dos seus escombros
Triste e silenciosamente testemunhar
O Crepitar da Coivara da Memória
*Ismael Pereira é Cidadão Honorário de Arapiraca, artista plástico, escritor, poeta e bacharel em Direito.
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