Inicialmente quero deixar bem claro que sou inarredavelmente favorável a preservação do Clube dos Fumicultores e de sua permanência no seu local nascedouro. Contudo, concordo que sua finalidade social passe a ser cultural. Volto a sugerir que em seu espaço físico seja implantado o MUSEU DO FUMO, para exaltar a memória dos fumicultores; como também uma GALERIA DE ARTES e até mesmo uma BIBLIOTECA VIRTUAL GRATUITA.

         Não é justo abominar o passado, que é a razão do hoje. Afinal, todo presente fatalmente será pretérito. Àquele que não valoriza a anterioridade não é digno do agora, tampouco do amanhã. É justamente o passado do Clube dos Fumicultores que o glorifica no presente.  Ele não deve ser considerado inservível nem sua história ser sordidamente incinerada.

         Eu, por exemplo, conto hoje com 81 anos de existência, é muito passado, não é mesmo? São mais de 8 décadas levadas pela inexorável esteira do tempo. Mas, por ser idoso devo ser descartado? Ou devo ser dignamente preservado para contar a história do que se foi, e até mesmo continuar fazendo história? Confesso, sentir-me-ei feliz ao ver o meu passado valorizado e respeitado, afinal a velhice não é uma tragédia, ela é sim, como bem afirmou o saudoso Dom Hélder Câmara: “A velhice é o domingo da semana”.

          O nosso venerado Clube dos Fumicultores é uma chama da quase centenária história de Arapiraca que ainda permanece acesa, embora submetida a uma pertinaz ameaça de vê-la apagada. Eu, particularmente, rogo a Deus que essa tragédia não se consolide, mormente quando Arapiraca se prepara para mostrar quão bonita é sua história, e glorioso é o seu passado. Exorto, pois, as forças vivas de nossa airosa Arapiraca, para lutarem até os últimos estertores em prol da preservação do Clube dos Fumicultores, para que a fulgurante luz votiva emanada da estrela radiosa jamais seja desvanecida.

           Como autor do histórico mural do Clube dos Fumicultores, até que me cabe o direito de, independentemente de uma possível revogação da lei que o protege, ajuizar uma demanda exigindo a intocabilidade, inalienabilidade e a inamovibilidade da referida obra de arte. Mas, vou preferir aguardar para ver a direção do sopro dos ventos.

          Fecho a cancela da minha velha Gamboa, retorno para casa com meus passos lentos, e respiro fundo para dizer: CONTE COMIGO, AMADO CLUBE DOS FUMICULTORES.

 

                                         ISMAEL PEREIRA é artista plástico, poeta, escritor e bacharel em Direito.