Embora à distância tenho acompanhado com muito interesse a lamentável situação por que vem passando o Clube dos Fumicultores de Arapiraca, que a bem da verdade é o último bastião da quase centenária história de Arapiraca que a duras penas ainda resiste heroicamente em pé, embora submetido a um intenso bombardeio. Entendo que só os 73 anos de existência CFA por si só já impõe respeito. 

Portanto, não seria nada agradável que essa também quase centenária história seja inopinadamente considerada uma reles página virada e enterrada em cova rasa. Sabese perfeitamente que muito suor de abnegados fumicultores foi derramado para preparar a massa dos seus alicerces, e levantar suas robustas paredes, em uma das quais encontra-se um extenso mural por mim concebido e executado há quase 5 décadas, sintetizando fluxogramaticamente o iter da atividade que muito contribuiu para tornar Arapiraca o que é hoje. 

É de suma importância que nos detenhamos em um detalhe que parece não está sendo levado em consideração. Trata-se de uma lei, de autoria da vereadora Gilvânia Barros, aprovada por unanimidade, dispondo sobre o tombamento do referido mural para o Patrimônio Histórico do Município de Arapiraca. Isto significa dizer que, àquela histórica obra de arte passou a ser inalienável e inamovível. Deu para entender agora o tamanho da pedra no caminho? De conformidade como os meus modestíssimos conhecimentos jurídicos, qualquer tentativa de permutar, alienar, vender ou demolir, pelo menos o mural, será considerada nula de pleno direito. 

Pois é, quis o destino que a vereadora Gilvânia Barros, de sua livre e espontânea decisão, elaborasse um projeto de lei que resultou aprovado unanimemente, e a seguir culminasse sancionado pelo saudoso prefeito Rogério Teófilo, blindando legalmente o mural existente no Clube dos Fumicultores, que na minha avaliação encontra-se muito deteriorado clamando por um bom restauro, cabendo tal providência a Prefeitura Municipal de Arapiraca a quem ora cabe a responsabilidade de sua guarda e preservação por força de lei. Quanto aos débitos do Clube não considero um obstáculo intransponível, ao contrário, há saídas plausíveis e atraumáticas. 

Por exemplo: a pendência com o IPTU poderá muito bem ser anistiada, bastando para isto a boa vontade do chefe do Executivo e a autorização da Câmara Municipal, a requerimento expresso feito senhor prefeito, sem que tal medida seja interpretada como renúncia de receita, vez que o Clube dos Fumicultores, considerando a sua relevante função social ao longo dos seus quase 80 anos, justifica plenamente a anistia do débito tributário em comento. 

E cabe muito bem gozar de isenção desse tributo. Não sei se o CFA é considerado de utilidade pública municipal, se não o for cabe a diretoria vigente requerer o quanto antes. No tocante as demais pendências, um dos caminhos para a solução seria manter gestão junto aos deputados estaduais, federais e senadores com vínculo direto ou indireto com Arapiraca, objetivando obter através dos mesmos os recursos necessários para resgatar o saldo devedor do clube. Se houver boa vontade haverá solução. 

Dizem que, mais longe e bem mais alto é o céu, e quando chove a gente bebe água lá de cima. Deixo aqui duas sugestões: a primeira é que seja criado o MUSEU DO FUMO, que funcionará no salão de festas do CFA, justo onde encontra-se o mural aqui várias vezes mencionado. E a segunda é que seja criada uma lei através dos pares da Câmara Municipal de Arapiraca, dispondo sobre o tombamento do Clube dos Fumicultores, como patrimônio histórico, social, cultural e material do Município de Arapiraca. Assim o fazendo, teremos sua perene e intocável guarda e preservação. O que por sinal já deveria ter acontecido. É tarde, mas ainda é tempo. 

ISMAEL PEREIRA é artista plástico, poeta, escritor e bacharel em Direito