Fardos encontrados em praias de Alagoas pertenciam a navios nazistas, concluem pesquisadores

15/10/2021 20:43 - Geral
Por Redação*
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Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) concluiu que os novos fardos de borrachas encontrados no litoral de praias de Alagoas  da Bahia, em agosto deste ano, pertenciam a um navio nazista.

Objetos semelhantes já haviam sido localizados anteriormente, em 2018, e foram identificados como carga de uma embarcação alemã afundada na Segunda Guerra Mundial. No entanto, pesquisadores descobriram que os materiais avistados recentemente na costa brasileira eram transportados em um outro cargueiro alemão, o  MV Weserland, que foi naufragado pela Marinha Americana em janeiro de 1944.

Já os fardos que apareceram há três anos faziam parte da carga de outro navio, o SS Rio Grande, também naufragado em combate no mês de janeiro de 1944.

No final de julho deste ano, equipes da Prefeitura de Coruripe recolheram nove fardos que apareceram na praia de Lagoa do Pau, situada no município de Coruripe no Litoral Sul. O material foi recolhido e encaminhado para o Centro de Tratamento de Resíduos – CTR do Pilar, e se tratava do mesmo material encontrado em 2018, identificado como Latex.

Os pacotes, semelhantes aos que apareceram em 2019, foram encontrados no município de Coruripe neste domingo (25), e recentemente nas praias  Mirante da Sereia, em Maceió, e nos municípios da Barra de Santo Antônio, Japaratinga e Maragogi.

No recente estudo, os pesquisadores observaram que os fardos mais recentes tinham inscrições em ideogramas japonês. Já os objetos encontrados anteriormente tinham inscrições da Indochina. Outro elemento considerado para a diferenciação, pelos pesquisadores, é o aparecimento de fardos em Salvador, neste ano. Em 2018, os objetos encontrados não foram vistos na capital baiana.

"Duas coisas chamaram a nossa atenção: primeiro a grande quantidade de fardos neste ano, mais de 200 na Bahia, Sergipe e Alagoas. Era uma quantidade grande demais para ser considerado residual. Outro fator foram as fotos enviadas por um colega de Alagoas. Nelas haviam ideogramas em japonês, que depois identificamos como do tipo kanji. Isso não tinha no outro. Então ligou o alerta de que não seriam os mesmos fardos", explicou o professor Luis Ernesto Arruda Bezerra, do Instituto de Ciências do Mar, da UFC, ao Jornal O Globo.

Bezerra e seu colega, o professor Carlos Peres Teixeira, começaram a vasculhar bancos de dados sobre navios de guerra naufragados. Em seguida, eles entraram em contato com o pesquisador britânico David Mearns, especializado na localização de naufrágios. O inglês confirmou que no começo deste ano houve uma tentativa de recuperar a carga de estanho que também era transportada no MV Weserland.

"O preço do estanho triplicou no começo de 2021, porque é usado em componentes eletrônicos. Com a pandemia, houve aumento na demanda e ele se tornou o produto mais promissor na bolsa de Londres. Então tentaram recuperar a carga desse navio e isso fez com que os fardos se soltassem", disse Bezerra.

Os pesquisadores também criaram modelos matemáticos para simular a ação dos ventos e das correntes oceânicas. Os resultados mostraram que os fardos seriam trazidos exatamente para os locais onde foram encontrados se soltos onde o MV Weserland está naufragado.

Apesar de terem sido transportados em diferentes navios, os fardos possuem as mesmas características. Eles pesam até 200 kg e na verdade são "folhas" de látex dobradas diversas vezes. Trata-se de matéria prima para borracha utilizada nos pneus e armas do exército alemão.

 

*Com O Globo

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