"As pessoas vão lembrar que houve uma igreja evangélica que disse não ao ódio", diz pastor sobre tombamento da Igreja Batista

09/10/2021 08:06 - Maceió
Por Redação
Image

O trabalho de resistência dos membros da Igreja Batista do Pinheiro ganhou mais um importante capítulo para a história da comunidade que atua há de 51 anos em Maceió. Após muitos meses, o templo conseguiu ser reconhecido pela Assembleia Legislativa de Alagoas como Patrimônio Material e Imaterial do Estado.

Esse tombamento tem um significado especial para toda comunidade, que já luta há anos pelas questões da sociedade. “A importância do tombamento se dá exatamente porque a gente está vivendo, digamos, tempos sombrios em que a maioria discurso evangélico tem sido identificado como a intolerância, com um discurso ácido condenatório, e você ter uma comunidade de fé, protestante, que em termos de  organização tem 51 anos desde que se mantém proclamando o Evangelho”, disse o Pastor Wellington Santos.

O pastor ressalta que a Igreja Batista tem uma memória de luta junto com a comunidade, sendo pioneira no diálogo com a cultura, no diálogo com as questões políticas da cidade e também do campo, que tem saído na frente e apanhado muitas vezes por denunciar o racismo, o feminicídio, o machismo e patriarcado presente nas  lideranças religiosas, uma comunidade que se coloca ao lado irmãos irmãs LGBTQIA+ para defender a dignidade dos mesmos e das mesmas. 

“As pessoas vão lembrar que houve uma igreja evangélica que disse não ao ódio. É fundamental e essencial manter a memória de uma comunidade dessa viva, por detrimento de toda prática que as igrejas Batistas evangélicas fazem em anunciar a salvação arrependimento e uma vida pós morte, que nós também fazemos, nós trazemos para o contexto desse chão que a gente pisa, as lutas que nos causam sofrimento aqui e agora. Então ter uma comunidade como essa tombada é algo simplesmente muito rico, principalmente para as futuras gerações, que precisam se inspirar”, completa o pastor. 

O processo do tombamento teve início em abril deste ano, quando a comunidade fez um abaixo assinado virtual para buscar a aprovação da matéria, assim como sensibilizar diversos movimentos sociais que abraçaram a causa. A Igreja passou muito tempo sem realizar nenhuma atividade presencial devido a pandemia, mas voltou suas atividades frente ao processo de desativação e desocupação em razão da instabilidade do solo no Pinheiro. 

Segundo o pastor, essa resistência  da comunidade se dá através da formação teológica. “Sem uma boa reflexão crítica teológica, sem uma  uma boa formação educacional, sem uma boa capacidade de instrumentalizar as pessoas a lerem o mundo seu redor,  não tem como haver resistência. Como diria Paulo Freire, se a gente não forma e não ajuda as pessoas a dar um salto crítico na leitura de mundo,  o sonho do oprimido é se tornar opressor".

"Então a gente tem feito isso no cotidiano incansavelmente, que é investir na formação teológica, crítica e na capacidade de ouvir o mundo para dar respostas a partir, óbvio, do nosso ponto de partida de reflexão que é Jesus Cristo de Nazaré e eu sempre destaco o de Nazaré, porque o Jesus Cristo como a gente conhece parece com pintado pela burguesia, pelas elites, mas não há como escravizar o Cristo de Nazaré, que tem opção que tem cheiro que tem lado, então nos investimos incansavelmente formação teológica”, finaliza Pastor Wellington.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..