O trabalho de resistência dos membros da Igreja Batista do Pinheiro ganhou mais um importante capítulo para a história da comunidade que atua há de 51 anos em Maceió. Após muitos meses, o templo conseguiu ser reconhecido pela Assembleia Legislativa de Alagoas como Patrimônio Material e Imaterial do Estado.

Esse tombamento tem um significado especial para toda comunidade, que já luta há anos pelas questões da sociedade. “A importância do tombamento se dá exatamente porque a gente está vivendo, digamos, tempos sombrios em que a maioria discurso evangélico tem sido identificado como a intolerância, com um discurso ácido condenatório, e você ter uma comunidade de fé, protestante, que em termos de  organização tem 51 anos desde que se mantém proclamando o Evangelho”, disse o Pastor Wellington Santos.

O pastor ressalta que a Igreja Batista tem uma memória de luta junto com a comunidade, sendo pioneira no diálogo com a cultura, no diálogo com as questões políticas da cidade e também do campo, que tem saído na frente e apanhado muitas vezes por denunciar o racismo, o feminicídio, o machismo e patriarcado presente nas  lideranças religiosas, uma comunidade que se coloca ao lado irmãos irmãs LGBTQIA+ para defender a dignidade dos mesmos e das mesmas. 

“As pessoas vão lembrar que houve uma igreja evangélica que disse não ao ódio. É fundamental e essencial manter a memória de uma comunidade dessa viva, por detrimento de toda prática que as igrejas Batistas evangélicas fazem em anunciar a salvação arrependimento e uma vida pós morte, que nós também fazemos, nós trazemos para o contexto desse chão que a gente pisa, as lutas que nos causam sofrimento aqui e agora. Então ter uma comunidade como essa tombada é algo simplesmente muito rico, principalmente para as futuras gerações, que precisam se inspirar”, completa o pastor. 

O processo do tombamento teve início em abril deste ano, quando a comunidade fez um abaixo assinado virtual para buscar a aprovação da matéria, assim como sensibilizar diversos movimentos sociais que abraçaram a causa. A Igreja passou muito tempo sem realizar nenhuma atividade presencial devido a pandemia, mas voltou suas atividades frente ao processo de desativação e desocupação em razão da instabilidade do solo no Pinheiro. 

Segundo o pastor, essa resistência  da comunidade se dá através da formação teológica. “Sem uma boa reflexão crítica teológica, sem uma  uma boa formação educacional, sem uma boa capacidade de instrumentalizar as pessoas a lerem o mundo seu redor,  não tem como haver resistência. Como diria Paulo Freire, se a gente não forma e não ajuda as pessoas a dar um salto crítico na leitura de mundo,  o sonho do oprimido é se tornar opressor".

"Então a gente tem feito isso no cotidiano incansavelmente, que é investir na formação teológica, crítica e na capacidade de ouvir o mundo para dar respostas a partir, óbvio, do nosso ponto de partida de reflexão que é Jesus Cristo de Nazaré e eu sempre destaco o de Nazaré, porque o Jesus Cristo como a gente conhece parece com pintado pela burguesia, pelas elites, mas não há como escravizar o Cristo de Nazaré, que tem opção que tem cheiro que tem lado, então nos investimos incansavelmente formação teológica”, finaliza Pastor Wellington.