Eu, a Covid-19 e a família CadaMinuto

16/03/2021 13:40 - Vanessa Alencar
Por redação
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Queridos leitores, inicialmente peço desculpas pela ausência, explicando que ela se deu em razão da Covid-19. Fiquei internada quase dez dias e, agora, graças a Deus, estou me recuperando.

Segue, abaixo, relato que fiz para o site Uol, sobre minha experiência com a doença e com a internação. Segue também um pouco sobre todo o apoio que recebi, principalmente da família CadaMinuto, da qual tenho orgulho de fazer parte.

Os sintomas - inicialmente leves (tosse seca, dores na cabeça e no corpo, coriza e fadiga) - começaram na noite do sábado de Carnaval, 13 de fevereiro, e na terça seguinte o exame confirmou a Covid-19.

Segui os protocolos médicos, não estou no "grupo de risco" e não tenho comorbidades. Ou seja, os prognósticos eram bons, né?

Mas a doença, imprevisível e traiçoeira, simplesmente "evoluiu", comprometendo pulmões, causando muita tosse e febre alta.

O "detalhe" que fez enorme diferença no tratamento dos sintomas: sou alérgica a todos os antitérmicos (sim, até ao inocente paracetamol) e aos mais simples remédios para dor. Apenas corticóides conseguem baixar minha febre e, para dores fortes, conto somente com o Tramal e derivados.

Apesar da medicação possível, a "evolução" da Covid seguiu o baile, até que, na madrugada de sexta-feira, dia 25 de fevereiro, fui internada.

Nesses quase dez dias estive numa espécie de "limbo", convivendo com a angústia, com o medo e extremamente próxima das dores dos outros.

Coisas simples como respirar, ir ao banheiro, comer, se tornaram difíceis entre tanto cansaço, fios nos braços, 'acessos' perdidos devido à fragilidade das veias, várias coletas de sangue durante o dia e até troca de fraldas para evitar o esforço de sair da cama.

No hospital, me impus um "limite" que não consegui cumprir todos os dias (ser jornalista não ajuda nessas horas): evitar os noticiários da TV. As lágrimas desciam com os fatos e relatos. Não eram estatísticas. Eram vidas, perdidas e transformadas pela Covid-19. E eu estava ali, personagem e espectadora.

Chorei com os médicos que tinham que escolher - da tela de um computador - quem tentar salvar: uma vaga para a UTI, inúmeras pessoas na "disputa".

Chorei com o atraso criminoso na vacinação, com o descaso inacreditável e chorei com a exaustão vista nos olhos, por trás das máscaras, dos profissionais de saúde que tão bem cuidaram de mim. Senti vontade de agradecê-los mil vezes e de pedir perdão outras mil vezes.

Entre um pico e outro de febre, sinto que vi um pouco sob o Véu de Isís, quando os mundos visível e invisível se tocam, se encontram. Rostos deste e do outro plano desfilaram no meu sono agitado.

Havia uma espécie de cortina com bico de renda cor da pele que balançava de leve com o vento. Olhava pra ela. Era como se fosse o divisor desses dois mundos: frágil, leve, suave. Olhar pra ela e acompanhar seu movimento me acalmava estranhamente.

Senti também uma espécie de dissociação do meu corpo. Estava lá, mas era como se não tivesse. Era só massa. A energia parecia ter sido retirada provisoriamente e guardada em um cantinho, até poder ser devolvida à "caixa".

Recebi alta no sábado, dia 6 de março, após quase dez dias internada. Dez dias nos quais não esquecerei - dentre tantas experiências - quem esteve literalmente ao meu lado: meu marido. Ele pausou a própria vida e se mudou comigo para o hospital, segurando minhas mãos, enxugando minhas lágrimas e repetindo: "Calma, tudo vai dar certo".

Em casa, ainda sinto cansaço e a vista escurece com qualquer esforço maior. A médica disse que devo manter repouso para, aos poucos, bem aos poucos, ir voltando à rotina. A recuperação é mais lenta para alguns, mas vai acontecer. Um dia de cada vez.

Travessia

Quando voltei, lembrei também que, cerca de uma noite antes dos primeiros sintomas da Covid-19, sonhei com meu pai, falecido em 2014.

Estávamos dentro de um carro de passeio, no fundo do mar (meu pai estava na direção), e precisávamos atravessar... Eu não entendia as razões e questionava: "Pai, porque não vamos pela superfície?!".

Ele só respondia que não era possível, que para atravessar aquilo tinha que ser daquele jeito: "Bote a máscara e vamos lá!", repetia.

"Estou com medo. Muito medo. A água vai entrar...".

"Vamos atravessar isso juntos". Ele respondia e então eu notava que havia mais gente no carro, como minha cunhada, Wanessa. Não lembro da "travessia". Só lembro de colocar a máscara e fechar os olhos...

Marcas

Nos braços, observo as marcas "físicas" da internação. Na alma, elas serão eternas e precisarei falar sobre elas outras tantas vezes...

Em meio à Covid-19 vislumbrei alguns mundos e transformei o meu. Preciso falar e ouvir sobre isso. Hoje é essa a minha missão.

Gratidão

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora pela chance de contar essa história. Ao meu marido, mãe, filha, irmãos, cunhadas e demais familiares e amigos, a todos os profissionais de saúde que cuidaram de mim, à equipe do Hospital Veredas, a cada amigo que rezou pela minha recuperação e, aqui, especialmente à família CadaMinuto.

Ao editor-geral, Carlos Melo, e a seus pais, minha eterna gratidão pelo apoio e pelo  carinho. As palavras e gestos de suporte, confiança e amor me emocionaram, acalmaram e confortaram.

Aos amigos e colegas do portal e aos leitores, obrigada pela paciência e pela torcida.

Fiquemos todos com Deus!

 

 

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